O deputado federal Pedro Lucas Fernandes (União Brasil-MA), líder do União Brasil na Câmara dos Deputados, recusou o convite para assumir o Ministério das Comunicações e o partido já prepara uma nova indicação. A decisão foi tomada após uma reunião com a bancada nesta terça-feira, 22.
Fernandes era o favorito para assumir o posto deixado por Juscelino Filho, demitido após a denúncia oferecida pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por suspeitas de desvio de emendas. Ele era uma aposta do presidente do União Brasil, Antonio Rueda, e do vice-presidente, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto.
Em nota assinada por Rueda, o partido afirma que a decisão foi estratégica e que indicará um novo nome para a avaliação do Palácio do Planalto. No documento, o presidente da legenda nega qualquer desacordo ou constrangimento com o governo.
“Após uma avaliação cuidadosa, e em consonância com a bancada federal, o deputado Pedro Lucas optou por permanecer à frente da liderança do União Brasil na Câmara, posição estratégica para o partido diante da complexidade da agenda legislativa que se apresenta”, declarou Antonio Rueda.
“Essa decisão, tomada com maturidade e responsabilidade, não representa qualquer desacordo — muito menos constrangimento — entre o partido e o governo federal. Ao contrário: reflete o compromisso com a estabilidade política e a coerência na condução das nossas prioridades parlamentares”, completou.
A decisão foi tomada em meio à pressão de deputados da ala oposicionista. Na avaliação de parlamentares que conversaram com a IstoÉ nas últimas semanas, há a defesa do desembarque do partido do Palácio do Planalto.
O União Brasil nega a possibilidade. Além do Ministério das Comunicações, a legenda conta com o Ministério do Turismo, que tem Celso Sabino no comando. A legenda, por meio do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), ainda indicou o nome de Waldez Góes, ministro do Desenvolvimento Regional.
Também em nota, Pedro Lucas Fernandes pediu desculpas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e afirmou que deve colaborar como líder do que no comando da pasta.
“Tenho plena convicção de que, neste momento, posso contribuir mais com o país e com o próprio governo na função que exerço na Câmara dos Deputados. A liderança me permite dialogar com diferentes forças políticas, construir consensos e auxiliar na formação de maiorias em pautas importantes para o desenvolvimento do Brasil”, disse.
“Minhas mais sinceras desculpas ao presidente Lula por não poder atender a esse convite. Recebo seu gesto com gratidão e reafirmo minha disposição para o diálogo institucional, sempre em favor do Brasil”, concluiu.
Nome cotado
Pedro Lucas Fernandes era favorito para assumir o posto desde a demissão de Juscelino Filho, acusado de desvios de verbas em emendas parlamentares. Ele era uma indicação pessoal de Antonio Rueda e teve seu nome aprovado pelo Palácio do Planalto.
O nome do deputado chegou a ser confirmado pela ministra da articulação política, Gleisi Hoffmann, que garantiu a posse após o feriado de Páscoa. O cenário, nos bastidores, mudou após a pressão de deputados da ala oposicionista do partido.
Em trocas de mensagens no grupo de deputados, parlamentares elogiaram a postura de Fernandes ao recuar momentaneamente para ouvir a bancada. Alguns deputados defenderam a manutenção na liderança para evitar quebras de acordos internos.
Saída de Juscelino Filho
O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, confirmou seu pedido de demissão após a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) por suspeita de desvio de emendas parlamentares. A carta de demissão foi enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no fim da tarde de terça-feira, 8.
Ele foi denunciado pela PGR por suspeita de desvio de emendas parlamentares enviadas à cidade de Vitorino Freire (MA), que era comandada por Luanna Rezende, irmã do ministro. O processo segue em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF) sob sigilo, com relatoria do ministro Flávio Dino.
A demissão do agora ex-ministro das Comunicações foi costurada durante todo o período da tarde. Internamente, interlocutores do Palácio do Planalto e aliados de Juscelino tentaram convencê-lo a tomar a atitude para não aumentar o desgaste para ele e para o governo.
Desvio de verba federal
Em janeiro de 2024, uma reportagem do Estadão mostrou que o então parlamentar direcionou R$ 5 milhões do chamado ‘orçamento secreto’ para asfaltar uma estrada de terra próxima à sua fazenda, na cidade de Vitorino Freire (MA). À época, a prefeita do município era Luanna Rezende, irmã do ministro.
No relatório final da investigação que fundamentou a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), a Polícia Federal constatou também a existência de irregularidades nas licitações para obras de pavimentação asfáltica da prefeitura, com o intuito de favorecer o empresário Eduardo José Costa Barros, conhecido como Eduardo DP.
Segundo o documento, em contrapartida, o empresário teria realizado pagamentos de propina a Juscelino utilizando intermediários.
Mesmo com as denúncias, à época, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva bancou a permanência do titular das Comunicações no cargo, mas prometeu afastá-lo caso a denúncia fosse apresentada pela Procuradoria-Geral da República.