Em grave crise financeira e em busca de recuperação após um início de campanha tenebroso na Série B do Campeonato Brasileiro, o Cruzeiro tem o seu “mecenas” para tentar consolidar a reação na segunda divisão nacional e a pagar algumas contas pesadas do clube: é Pedro Lourenço, que ajudou o clube a quitar pendências na Fifa e a viabilizar a chegada do técnico Luiz Felipe Scolari para comandar o time.

Lourenço é mais conhecido pelo apelido que indica o seu empreendimento de sucesso no mundo empresarial: Pedrinho BH. Ele é o nome por trás dos Supermercados BH, rede varejista fundada em 1996 na cidade mineira. Possui, hoje, mais de 220 lojas em Minas Gerais e consegue se posicionar e disputar os clientes com grandes grupos multinacionais do segmento.

As contribuições financeiras de Pedrinho ao Cruzeiro lembram ações de outros empresários em clubes do futebol nacional em anos recentes. Foi assim com Leila Pereira, dona da Crefisa, no Palmeiras, com alto investimento em reforços, e Rubens Menin, fundador da MRV Engenharia, no Atlético-MG, a quem, inclusive, doou o terreno para construção do estádio. Assim como nos outros clubes, a dobradinha do Cruzeiro se iniciou pelo patrocínio nos uniformes, depois se transformou em investimento e aumento da influência e da participação política.

Como o cenário financeiro do Cruzeiro é bem pior do que o desses rivais, Pedrinho BH tem mais ajudado a “apagar incêndios” no clube. Foi ele o responsável por bancar, recentemente, dívida do time pela contratação de Willian Bigode junto ao Zorya, da Ucrânia, para impedir nova punição da Fifa e liberar a chegada e registro de reforços, também levando o clube a ficar em dia com o centroavante Ramón Ábila e com o técnico português Paulo Bento. No total, gastou mais de R$ 10 milhões.

“Acho que tem muita gente que tem condição que poderia ajudar o Cruzeiro. Esperamos que, enquanto eu estiver vivo, nunca mais passemos por isso (rebaixamento à Série B). O que temos de fazer agora é tirar o Cruzeiro dessa situação tão triste. O que faço para o Cruzeiro é com amor”, afirmou em agosto, quando recebeu o Raposão de Ouro, a maior honraria do clube para o qual torce.

Mas além de quitar as dívidas, Pedrinho também foi importante com outras ações. Após demitir Ney Franco, o seu terceiro treinador em 2020, o clube vinha recebendo negativas de técnicos. Ouviu o “não” de Felipãol e falhou até na negociação com nomes menos conhecidos como Marcelo Chamusca, então no Cuiabá, Lisca, do América-MG, e Umberto Louzer, da Chapecoense.

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Foi só quando Pedrinho entrou em ação que o cenário mudou. Ele topou bancar parte relevante dos salários de Felipão, que assinou até o final de 2022. A isso se somou o pagamento da dívida na Fifa, o que encerrou a proibição do clube de realizar contratações. Assim, Scolari aceitou retornar a Minas Gerais, pois reforços poderiam ser registrados. Ele também prometeu outras contratações para o time.

Com a chegada de Felipão, o Cruzeiro reagiu. Conseguiu deixar a zona de rebaixamento para a Série C, não perdeu mais na Série B – são três vitórias e dois empates – e respirou na segunda divisão nacional, embora a busca pelo acesso seja um desejo ainda distante.

Essa reação, porém, é atrapalhada por fatores extracampo. O Cruzeiro ainda convive com o trauma da perda de seis pontos na Série B em função do não pagamento de outra dívida, essa com o Al-Wahda, dos Emirados Árabes Unidos, pelo volante Denilson. Nesse caso, o prazo para sua quitação se deu em meio ao processo eleitoral que elegeu Sérgio Santos Rodrigues para um mandato-tampão. E o clube não contou com os recursos de Pedrinho, ou de outro parceiro, para quitá-la em maio.

“A gente tem de se unir com o Serginho (Rodrigues, presidente), uma coisa transparente, e a gente não pode deixar o clube perder pontos por causa de R$ 4 milhões. A torcida que a gente tem, os conselheiros que temos, todos têm condição financeiras, se fizermos um rateio. Isso é uma coisa que a gente tem de repensar, não podemos deixar o Cruzeiro nesta situação, temos a obrigação de ajudar”, afirmou o dono do Supermercados BH, meses após a punição.

IDAS E VINDAS NA POLÍTICA – A participação de Pedrinho na política do Cruzeiro tem sido marcada também por algumas idas e vindas em sua atuação. E ainda críticas por declarações acaloradas. Com isso, embora atuante nos bastidores nas últimas semanas, ele tem se recusado a falar publicamente, como a reportagem do Estadão constatou. Em outubro de 2019, quando Zezé Perrella assumiu o futebol do Cruzeiro, já em situação preocupante na briga contra o rebaixamento no Brasileirão, chegou a lançar o nome de Pedrinho à presidência do clube e disse que o filho do empresário seria seu assessor, algo que não se concretizou.

Depois, em 23 de dezembro, após a renúncia de Wagner Pires de Sá e de outros nomes da sua gestão, foi indicado como vice-presidente de futebol pelo “conselho de notáveis” que assumiu o clube. Mas acabou se desligando da função em 9 de janeiro. “Estou com a torcida, não vou abandonar o Cruzeiro, não vou tirar patrocínio, vou ajudar no que for preciso, mas não como gestor”, afirmou.

Mais recentemente, foi alvo de críticas após ameaçar deixar de investir no clube se o técnico Enderson Moreira não fosse demitido, na sequência de uma derrota para o América-MG. “Vou cobrar ele (o presidente do Cruzeiro), vou ligar para ele e tem que tomar atitude. Eu o apoiei e não vou deixar de apoiar. Não sou o presidente. Se eu fosse o presidente, eu mandava o técnico e a comissão técnica embora hoje. Não é amanhã, não”, disse. Sua declaração foi vista como uma ingerência no trabalho de Santos Rodrigues, seu aliado. Enderson não caiu daquela vez, mas durou apenas mais 10 dias no cargo.

Inicialmente com um mandato-tampão à frente do Cruzeiro, Santos Rodrigues foi reeleito em setembro para comandar o clube até o final de 2023. E, ao que tudo indica, tendo Pedrinho como seu principal parceiro no período. “Tem muitos conselheiros que acham que eu levei vantagem, sempre abri mão de muita coisa, se tiver que abrir mão de mais coisa eu vou abrir”, afirmou Pedrinho.


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