Se a corrupção financeira presta-se a aluir um governo, o comportamento amoral solapa a própria República.
Pouco surpreende as atitudes abusivas, compulsivamente amorais e criminosas do ex-presidente da Caixa Pedro Guimarães – a imoralidade pressupõe reflexão e escolha, a amoralidade está patamares abaixo, é compatível ao instinto primitivo.

Segundo diversos depoimentos de funcionárias da Caixa diretamente subordinadas a Guimarães, ele as assediava sexual e moralmente, fazendo disso uma repulsiva e terrificante rotina no ambiente de trabalho.

O fato de sua atuação pouco surpreender não significa, no entanto, que seus atos deixem de ser repudiáveis, assim como não implicam a sua não responsabilização penal. Guimarães é predador social, tem de ser retirado do convívio em comunidade. E se engana quem acha que ele adora mulheres. É o contrário: ele as odeia. De alguma mulher ele quer se vingar. Assim é a misoginia. Assim são os assediadores contumazes.

O relativo grau de surpresa pode ser explicitado pela seguinte indagação: o que se pode esperar, no campo do devido respeito às mulheres, de um governo capitaneado por alguém que, no acender das luzes de seu mandato, passou dias totalmente disfuncionais e improdutivos dedicados somente a comentários sobre a prática de golden shower? Por que tanto interesse por atos do transtorno parafílico?

O que esperar de um governo que tem em seu presidente um misógino que publicamente já deu conotação sexual a diversas questões que nada tinham a ver com sexualidade? E que já tem duas condenações por ofender mulheres, uma como deputado, a outra enquanto presidente?

Não sem motivo, portanto, Guimarães estava bem confortável em seu emprego, recebendo salário advindo do erário enquanto exercia sua selvageria sexual. E, na hora de partir, ele deixou uma carta lamuriosa, comportamento típico de pessoas que agem como ele age – verbo sempre no presente, ele não vai deixar de atuar dessa forma.
Na gestão Bolsonaro tem corrupção. Na gestão Bolsonaro tinha assediador que se valia da força de seu cargo – é o mesmo que se valer da força física. Assédio moral é metáfora de temperamento escravocrata; assédio sexual é metáfora de violação física.