Após o último adeus, os pedidos por justiça se multiplicavam nesta quinta-feira entre as famílias das vítimas do acidente ocorrido no metro da Cidade do México, convencidas de que a tragédia foi causada por negligência das autoridades.

Os funerais das 25 vítimas continuavam hoje em diferentes cemitérios da cidade, com um clamor comum: definir as causas do acidente e punir os responsáveis. “Não fomos os únicos afetados, muita gente está ferida”, disse à AFP Juan Luis Díaz, 17, após enterrar o corpo do pai. Ele afirmou que irá exigir uma indenização das autoridades.

“Justiça para minha mãe, porque meu pai era o sustento da casa”, declarou Luis Hernández, filho de outra vítima. “Me deem 1 ou 2 milhões, meu pai está morto e ninguém irá me devolvê-lo. As autoridades têm que ser responsabilizadas”, pediu após o funeral, que aconteceu no setor carente de Tláhuac.

– Presidente promete punição –

O presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, voltou hoje a garantir que a justiça será feita. “Nossos pêsames aos familiares daqueles que perderam a vida. Já tiveram início as investigações para definir as causas do acidente e punir os responsáveis.”

A perícia está a cargo do Ministério Público e da empresa norueguesa Det Norske Veritas, que fará uma análise desde a construção da Linha 12, informou a prefeita da capital, Claudia Sheinbaum, em entrevista coletiva. A obra foi marcada por uma polêmica envolvendo o sobrecusto de 70% e problemas operacionais.

A organização Mexicanos contra a Corrupção denunciou que a política de austeridade promovida por López Obrador resultou em cortes no orçamento do metrô e uma subexecução de 8,7% em 2020. Mas a Secretaria de Finanças da capital negou as alegações, afirmando que a redução aconteceu devido a uma queda na demanda pelo serviço como resultado da pandemia. O tráfego de passageiros diminuiu 40% em 2020, assinalou.

O orçamento do sistema é calculado com base em uma projeção anual de passagens vendidas e aportes do governo federal. A subexecução também foi consequência da redução dos custos operacionais, por haver menos passageiros, explicou a Secretaria.

– Impacto –

O acidente poderia impactar o governismo na disputa pela candidatura presidencial de 2024. No olho do furacão estão o chanceler, Marcelo Ebrard, que desenvolveu e inaugurou a obra em 2012, quando era prefeito da capital, e Claudia Sheinbaum.

Ebrard se defendeu dizendo que sua responsabilidade administrativa sobre o projeto terminou em 2013 e que por trás das acusações há motivações políticas. Segundo o chanceler, os problemas no elevado foram conhecidos após o terremoto de 2017. Já a chefe da prefeitura expressou que seria muito mesquinho “estar pensando em um assunto político”, ao ser questionada se o acidente irá afetar sua carreira.

Nesta quinta-feira, foram convocadas nas redes sociais mobilizações em solidariedade às vítimas e para exigir “justiça, o esclarecimento dos fatos, o fim da corrupção e segurança no transporte público”.