Caro senhor “amigo” de Arthur do Val, apesar de desejar que fosse uma mulher disfarçada nesse grupo aí, desejar que fosse uma super-heroína em busca de justiça e equidade, o imagino homem. Até porque não posso crer que houvesse firmeza nesse seu “parça” ao proferir tais absurdos na presença, mesmo que virtual, de alguém que não fosse do mesmo gênero. E é tudo tão covarde, frouxo e até digno de… Não, não é digno de pena, me desculpe.

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Se pudesse conhecê-lo pessoalmente, senhor “amigo” de Arthur do Val, e se não estivesse ainda tão mexida como os líquidos do meu estômago desde que o senhor jogou essa merda toda no ventilador, o chamaria para um café. O agradeceria pelo vazamento dos áudios. E que áudios. Contra áudios não há argumentos.

O senhor já imaginou, em tempos de relacionamentos por apps de mensagens e plataformas de redes sociais, quantos de nós temos “amigos” de grupo como o senhor?

Isso me empolga, claro, mas ao mesmo tempo que me desassossega. É que andei “falando mal” de uma amiga para a outra. Em áudio. Não por sua vida sexual, nem profissional, até a admiro. Mas (sabe?), senhor “amigo” de Arthur do Val, as mulheres, às vezes, também são machistas umas com as outras. Devo admitir.

Essa amiga se separou recentemente e ainda está meio perdida, acho. Era um marido controlador e sexista. Então, ela anda se comportando de forma… Ah, sei lá. Até já repensei aqui e não quero repetir o que pensava antes.

Ao tocar no assunto do seu vazamento em um grupo de mensagens e comentar sobre a carta que um colega jornalista escreveu endereçada ao seu “amigo” Arthur do Val, ouvi outra história daquelas capazes de nos revirar por dentro. Uma amiga se queixou de seu “machismo velado” ao oferecer um pedaço de bolo para o jardineiro e não fazer o mesmo para a senhora que trabalha como faxineira em sua casa. “Somos todos machistas, mas estamos evoluindo”, ela disse. E eu concordo.

Em outro grupo, um amigo achava que o assunto do dia não era adequado para aquele espaço. É sábado, queremos sol e cerveja. Mas está chovendo. Enfim.

Esse lance do machismo também é uma guerra de fatos, uma guerra de versões, uma guerra de narrativas, como estão incessantemente fazendo impregnar nos nossos cérebros as transmissões jornalísticas sobre a invasão o senhor sabe qual. E, na guerra, o senhor sabe, a verdade é relativa e quem perde é o diálogo. Na guerra, quem perde é o entendimento, quem perde é a empatia. E não quero perder esse sentimento de solidariedade com um abaixo-assinado virtual que me chegou hoje.

Por isso, senhor “amigo” de Arthur do Val, gostaria de saber se poderia ser solidário também em outra guerra e me ajudar com o caso de uma amiga que ainda não conheço.

Paola é uma mulher mexicana de 27 anos que pode ser presa por até 7 anos e levar 100 chicotadas após ter sido abusada sexualmente enquanto dormia em seu apartamento em Doha, no Qatar, em junho de 2021.
Não existem áudios nem provas vazadas, ainda, mas o homem mentiu. Ele disse que Paola era sua namorada. Então, o tribunal deixou de vê-la como vítima e começou a condená-la, até mesmo pedindo provas de virgindade. O agressor foi liberado e ela foi convocada para uma audiência que decidirá se merece uma condenação por ter um “caso extraconjugal” com o homem que a estuprou.

Talvez seja um pouco mais complicado, mas deve haver alguma confissão dele em texto, áudio, figurinha ou emoji. Um homem assim, o senhor deve saber, não perderia a chance de se gabar para outro.

Eu sei que o Qatar é um caso complicado e que é um lugar em guerra com questões democráticas, apesar de poder ser país aliado dos Estados Unidos fora da OTAN nessa conjuntura toda. Também levo em consideração, como disse meu marido, que temos que tomar cuidado com essas histórias que surgem assim, na web. Pode ser que não seja verdadeira. Como disse, não conheço Paola. Mas, como mulher, sinto que se non é vero, é bene trovato. Essa coisa toda me traz à cabeça cenas do filme “Thelma e Louise”, que aflição.

O link do caso está aqui.

Imagino que o senhor deva ter outras preocupações no momento, mas não podia deixar de fazer esse pedido. Faltam apenas poucas horas para o Dia Internacional das Mulheres e, como jornalista, entendo que não podemos perder esse gancho.

Manda um direct pra mim nas redes sociais mesmo. Vai ser fácil me achar.

Muito obrigada.

Paty Moraes Nobre