Uma das maiores preocupações dos pediatras brasileiros é a anemia, redução da concentração de hemoglobina no sangue, que pode atingir até metade das crianças com menos de 2 anos de idade no País. Em 90% dos casos, a causa da doença é a carência de ferro (anemia ferropriva), considerada urgência médica pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Para o médico Hélio Rocha, Pediatra Nutrólogo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Chefe do Serviço de Nutrologia Pediátrica da mesma instituição, o alerta é justificado. Segundo ele, o mal pode afligir até 50% das crianças abaixo de 2 anos de vida e 20% entre as que têm menos de 5 anos. E somente com bons hábitos nutricionais da população o Brasil poderá controlar esse quadro crítico. O ferro age na produção das células vermelhas do sangue e tem papel primordial no transporte de oxigênio para todas as células do corpo. Em casos de insuficiência do me- tal, as crianças podem ter sintomas como fadiga, palidez de pele e mucosas, menor disposição e dificuldade de aprendizagem. Também pode ocorrer a falta de apetite e/ou sua perversão (ingestão de terra, sabão, gelo).

As possíveis consequências da doença nos pequenos são a diminuição na produção de tecido muscular, retardamento do crescimento, redução da imunidade e insuficiência cardíaca. O Dr. Hélio Rocha destaca outros desdobramentos graves da anemia ferropriva. “Nos cinco primeiros anos de vida, o ferro participa da formação da membrana neural do sistema nervoso central e na produção de energia no cérebro. A deficiência do metal nesse período impacta diretamente os processos cognitivos e o potencial intelectual para funções superiores. Esse prejuízo no desenvolvimento da capacidade cerebral é irreversível”, avisa.

PREVENÇÃO E NUTRIÇÃO INFANTIL A preocupação com a anemia ferropriva começa quando a mulher decide ser mãe. “Fazer avaliação médica e reposição de ferro antes da gravidez é fundamental. Durante a gestação, uma dieta rica deve ser acompanhada de suplementação com polivitamínicos e minerais”, explica o especialista.

Já os cuidados com a alimentação da criança começam logo após o nascimento, com amamentação exclusiva no peito até os seis primeiros meses. Depois de 90 dias de vida é preciso iniciar a suplementação com ferro. A partir do sexto mês, deve começar a ingestão de outros alimentos em papas e é importante ter a carne nessa composição o quanto antes. Com um ano, a ali- mentação da família macerada entra na dieta. E tanto a amamentação no peito quanto a suplementação com ferro têm que continuar até os dois anos.

Tão importante quanto ingerir ferro é absorvê-lo bem. “Alimentação que proporciona ácido fólico (vitamina B9), vitamina A, vitamina B12, zinco, selênio e cobre é essencial nesse processamento. Outro cuidado está em evitar itens que dificultam o aproveitamento do ferro, como leite de vaca in natura (que deve ser substituído por fórmulas infantis), café e refrigerantes”, conclui.

Principais fontes de ferro

  • Carnes vermelhas, principalmente fígado e outras vísceras
  • Carnes de aves e de peixes
  • Verduras e hortaliças verde-escuras
  • Leguminosas como feijão, grão de bico, ervilha, lentilha
  • Gema de ovo
  • Grãos integrais ou enriquecidos
  • Nozes e castanhas
  • Melado de cana, rapadura e açúcar mascavo