A atriz, ou, melhor dizendo, ex-atriz Regina Duarte vive entre a espada e a… espada. Mas onde está a cruz dessa velha expressão? A cruz ela carrega (porque quer) à frente da Secretaria Especial da Cultura.

Na semana passada, tornaram-se mais veementes as súplicas de seus familiares para que ela deixe o cargo, a ponto de sua filha Gabriela pedir-lhe isso como presente de aniversário.

Essa é uma das espadas. A outra é empunhada por Jair Bolsonaro, que promove o joguinho de pressão para que saia da secretaria. “Regina tem dificuldade em exercer a função e trabalha em São Paulo pela internet”, disse ele nas redes sociais, na terça-feira 28, criticando a sua opção por respeitar a quarentena. Mais: “Regina gosta dessa questão da esquerda de ideologia de gênero”. Em seu estilo perverso, ironizando que só o “presidente e o vice não podem ser demitidos”, Jair Bolsonaro a escanteia. Também na semana passada, Regina engoliu um sapo que até agora deve estar-lhe pulando no estômago.

Ela queria como secretário adjunto Humberto Braga, dado o seu bom relacionamento com artistas. Os bolsonaristas fizeram-na colocar no posto o advogado Pedro Horta, alegando que Braga é “esquerdista”. Vê-se, assim, Regina vivenciando um paradoxo: o seu nome salta à ribalta justamente para se falar que ela anda no ostracismo e não manda em nada.

Politicamente sumiu. Quando, por exemplo, Jair Bolsonaro apareceu ladeado de todos os ministros e assessores para tentar responder ao pronunciamento de demissão de Sergio Moro, a ex-“namoradinha do Brasil”, que “noivou” com o presidente antes de aceitar a secretaria, não estava presente. Isso levou a artista Christiane Torloni a indagar na segunda-feira 27: “a pergunta que não quer calar: cadê a Regina Duarte?”.

“A pergunta que não quer calar. Cadê a Regina Duarte”
Christiane Torloni, atriz, ironizando a ex-colega nas redes sociais (Crédito:Divulgação)

Sucata da rainha

Da sua não presença brotaram especulações de que ela poderia estar bastante contrariada. Regina sempre elogiou Sergio Moro, e seria natural, portanto, que a sua ausência e o seu silêncio sinalizassem que poderia estar ocorrendo um rompimento com Bolsonaro. O silêncio é, às vezes, mais eloquente que falas e escritas.
Esse não foi, porém, o seu caso. Na madrugada do domingo 26 ela se manifestou, mas o fez francamente a favor do presidente.

Talvez um pouco envergonhada, escreveu: “#tamosjuntospeloBrasil”. Pouco depois, postou outra mensagem, confusa, que muitos entenderam ser justamente o oposto da primeira: “quando me desapego do que tenho, recebo o que necessito. É tudo que preciso aprender, desapegar”. Parou nisso? Não. Veio uma terceira: “seja o que Deus quiser”.

Regina fica? Regina sai? Até a quarta-feira 29 essa novela seguia esse muito louco roteiro da vida. Voltemos, então, ao capítulo da indagação de Torloni: cadê Regina? Está claro que ela, com tal pergunta, já deixou de olhar com bons olhos a ex-colega. Regina, que em nada se notabiliza na política, tem a agenda trancada por Bolsonaro e nem gente de sua confiança consegue nomear. Vai perdendo amigos e aliados. O ator Carlos Vereza rompeu com o bolsonarismo, do qual foi franco e ativo apoiador, devido à exoneração do ministro Luiz Henrique Mandetta.

Consequentemente, rompeu também com a ex-atriz. Na verdade, ela conseguiu realizar uma proeza: deixou um robusto salário na Rede Globo, onde era considerada “patrimônio moral”; perdeu amigos no meio artístico; virou zero à esquerda na gestão; e é humilhada pelo seu subordinado, o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo. Será que a ex-“Rainha da Sucata” vai romper com o governo na base do “seja o que Deus quiser”? Até a quarta-feira, ela mantinha o script do “fico até quando Bolsonaro permitir, porque confio nele”.

EFEITO DOMINÓ O ator Carlos Vereza: rompeu com Bolsonaro e, por tabela, virou o rosto para Regina (Crédito:Divulgação)

Volte-se, então, à questão: Regina fica ou Regina sai? Olhando-se o fato de ela ter aceito Horta, cravar-se-ia que Regina fica; olhando-se pelo ângulo de seus familiares e da autoestima, diríamos que Regina sai. Há a versão de que ela, aos 73 anos, não quis correr risco com a pandemia e assistiu ao pronunciamento de Bolsonaro pela televisão, em seu lar paulistano, no dia em que Moro foi embora. Tudo bem. Mas, convenhamos, esse não é o seu estilo em momentos de cruciais crises na vida.

Ao contrário. Regina é mulher decidida de dar o rosto ao perigo, é mulher decidida de passar álcool gel nas mãos e colocar máscara e tomar avião e ir a Brasília. Não é verdade, “Viúva Porcina”? Pois bem, Regina, ouça um conselho da velha frigideira do presidente maluco: ele não respeita ninguém, o pano caiu rapidamente e a plateia se foi. Regina Duarte, ainda que o capitão que mande em você não seja o famoso Capitão Nascimento (filme “Tropa de elite”), pede “para sair”. Ou você prefere deixar que a “Rainha da Sucata” se torne um dia uma sucata de quem já foi rainha?