Apesar do protagonismo de Joana D’Arc, interpretada por Silmara Deon, a atriz não está sozinha. O Julgamento Secreto de Joana D’Arc traz também mais 16 artistas em cena, e seria difícil caber em moldes mais tradicionais do teatro, como o palco italiano. Por outro lado, a montagem é desafiada pela grandiosidade e importância do Teatro Oficina. Com texto de Aimar Labaki e direção de Fernando Nitsch, a peça teve de se adaptar a cada cantinho do teatro arquitetado por Lina Bo Bardi. “Não adiantaria chegar aqui e querer montar a peça”, diz o diretor. “O respeito e a relevância do Oficina nos provocam a pensar como contar essa história de resistência, tendo uma mulher como protagonista, diante da força das instituições.”

Com um elenco masculino que se divide entre os oficiais de guerra e religiosos, o destaque está mesmo no coro de mulheres e nas canções musicadas por Miguel Briamonte. “Queríamos que Joana estivesse acompanhada. Essas mulheres podem ser as vozes divinas que ela dizia ouvir assim como um exército feminino, o que equilibra a cena. Se o discurso e o verbo estão com os religiosos, o grupo de Joana reúne forças mais poéticas, de liberdade”, explica Nitsch.

Para ele, o julgamento oferecido à mártir francesa, condenada a ser queimada viva, se repete, de outras formas, nos tempos de hoje. “O tribunal passa a servir como uma cerimônia, a representação de uma decisão que já foi dada. No caso de Joana, foi importante entender que seu sacrifício fez sentido como uma tomada de consciência.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.