Denise Fraga estrela Eu de Você, monólogo dirigido por Luiz Villaça e composto por histórias enviadas pelo público – o texto final é assinado pelos dois, em parceria com Rafael Gomes.

Ao Divirta-se, suplemento de entretenimento do jornal O Estado de S. Paulo, a atriz falou sobre a nova peça.

Como foi o processo de recolher tantos depoimentos para a dramaturgia?

Eu tinha muita resistência em fazer um solo, mas, quando veio essa ideia de uma ‘trança’ da vida comum com a literatura, eu senti que tinha uma continuidade de um trabalho que já venho fazendo – o de subir em cena e falar “olha isso que eu li, como essas palavras que esse autor escreveu cem anos atrás te dizem respeito hoje”. Esse é ponto de partida do espetáculo, e o nome ‘Eu de Você’ marca a ideia principal: a de vestir-se do outro; olhar pelo olhar do outro. É um modo de a gente ver o que nos mantém humanos.

A peça traz histórias pessoais suas também…

Ao ler as histórias recebidas, eu começava a relembrar as minhas, então, há uma mescla. Esse exercício de você olhar pelo olhar do outro talvez seja o ato mais político que a gente tem a fazer hoje. Um exercício de compartilhar experiências, não opiniões. A internet é como um púlpito aberto, com todo mundo com um megafone. O que a gente mais tem a fazer hoje é tentar combater essa violência que nós estamos vivendo. Combater isso com a nossa serenidade, com a nossa humanidade, com a nossa conversa…

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Nas redes sociais, as pessoas se expõem muito, mas há também todo um jogo de aparências. Você acredita que essa peça, e o teatro como um todo, sejam uma forma de mostrar as experiências pessoais de uma forma mais crua e direta?

Nós recebemos quase 300 narrativas, entre cartas, vídeos, áudios… E era exatamente isto: as pessoas nos confiando suas vulnerabilidades. Me sinto, de certa maneira, responsabilizada por essas cartas que a gente recebeu. Foi uma dor grande deixar muitas histórias de fora à medida que o espetáculo ia se formatando. A dramaturgia foi nascendo na sala de ensaios, de uma forma muito bonita. Foi um processo do qual todos participaram – é uma colcha de retalhos feita coletivamente. Sempre recebi o público na porta do teatro para, de algum modo dizer: “nós estamos aqui; você percebe esse ritual poderoso de reflexão que é o teatro?”. Agora, a gente pega a própria história do público e devolve embalada pela arte.

Ao mesmo tempo que há tantas pessoas envolvidas, você está sozinha em cena, no seu primeiro monólogo. Como está sendo essa experiência?

O processo mais sofrido foi na sala de ensaio; foi muito difícil ficar ali sozinha, improvisando coisas diante das pessoas me olhando. Quando a gente começou a ter um material maior, eu espalhava todas aquelas histórias no chão, e improvisei muita coisa em cima disso. O Luiz me pedia para contar as histórias de diversas maneiras; a Kenia Dias foi fundamental na direção de movimento. Engraçado porque não dá para negar que há uma epidemia melancólica. A gente percebeu que, na maioria das cartas, eram pessoas querendo se abrir… Aí eu comecei a ficar muito angustiada sobre de que maneira poderíamos falar com leveza dessa tragédia cotidiana… O que eu mais gosto é que o espetáculo é divertido, tem leveza, humor.

Serviço

Teatro Vivo (274 lug.)

Av. Dr. Chucri Zaidan, 2.460, Morumbi

Fone: 3279-1520.

Estreia 6ª (20)

6ª, 20h; sáb., 21h; dom., 19h.

Até 15/12.


QUANTO: R$ 50/R$ 70. 80 min. 12 anos.


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