PCC financia campanhas e escolhe candidatos, diz chefe do MPSP

Ministério Público vê com preocupação ações da facção criminosa nas eleições do próximo ano

Paulo Sérgio de Oliveira e Costa
Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, procurador-geral de Justiça de São Paulo, em entrevista à IstoÉ Foto: Leonardo Monteiro/IstoÉ

A chegada das eleições de 2026 acendeu o alerta do Ministério Público de São Paulo (MPSP) para a participação do Primeiro Comando da Capital (PCC) no financiamento e na escolha dos candidatos a deputado e senadores. Nos últimos anos, a facção criminosa tem entrado no setor público, seja com nomes nas autarquias, Câmaras municipais e até empresas com contratos firmados com prefeituras.

Em 2024, por exemplo, o MPSP passou a monitorar a participação do grupo em candidaturas às Câmaras e às prefeituras de cidades pequenas, como Taboão da Serra, na grande São Paulo, em que um dos candidatos foi apadrinhado por um político que tem ligações com a facção. Além do financiamento, o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, afirma que o PCC escolhe os candidatos que serão seus representantes e, embora se evite nomes da quadrilha no Judiciário, é mais difícil a fiscalização dos nomes nos demais entes do poder público.

 

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“Eles oferecem financiamento paralelo às campanhas ou escolhem candidatos e pessoas para concorrer a cargos públicos, inclusive por meio de concursos públicos. Aqui no Ministério Público, nos concursos, temos um serviço de inteligência bastante atuante que fiscaliza e verifica essa situação, para evitar tal ingresso. No poder público em geral, isso já é um pouco mais difícil”, afirmou o procurador, em entrevista à IstoÉ.

O MPSP e a Polícia Civil devem intensificar o monitoramento para as próximas eleições, com foco nas candidaturas a deputado estadual e federal. A preocupação com a participação da facção vem após investigações apontarem a entrada da quadrilha em contratos públicos, como a operação de linhas de ônibus em São Paulo. Em 2024, o Ministério Público apontou o elo de duas empresas que operavam na Zona Sul da capital com o crime organizado, obrigando a Prefeitura a suspender os contratos.

Paulo Sérgio de Oliveira e Costa

Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, procurador-geral de Justiça de São Paulo, apontou a preocupação com o avanço do PCC sobre o setor público e diz que facção escolhe candidatos para participar das eleições

“Vimos, no caso da operação relacionada às empresas de ônibus em São Paulo, que o PCC estava à frente de duas empresas que transportavam um milhão e duzentas mil pessoas por dia, entre trabalho e residência. A partir do momento da operação, a Prefeitura assumiu o serviço — o transporte não foi interrompido —, cancelou o contrato com uma das empresas e está em vias de caducar outro contrato, para que seja realizada nova licitação”, lembra Oliveira e Costa.

A entrada da facção na economia formal também chegou no coração financeiro do país: a Faria Lima. Investigações apontam a participação do PCC em fundos de investimentos, bancos e postos de combustíveis para lavar o dinheiro do crime. O inquérito desenrolou a operação Carbono Oculto, em parceria com a Receita Federal e a Polícia Federal.

Para Paulo Sérgio, a falta de transparência em dados e informações impulsionaram o avanço do PCC sobre o setor público e defendeu um pente-fino para o maior controle dos nomes que atuam nos Poderes. De quebra, o procurador defendeu o fortalecimento dos órgãos de controle para intensificar as investigações e dar celeridade aos processos públicos.

“A maneira de evitar tais situações é fortalecer os órgãos de controle, internos e externos: a controladoria-geral, as corregedorias, a transparência e a publicidade dos atos, além da verificação do histórico daqueles que assumem um contrato público — quem são os diretores, quem compõe a diretoria responsável e quem está por trás do negócio”, disse.

“Assim, creio que é hora de passarmos um pente-fino nesses processos, em prol da proteção da própria sociedade. Ou seja, há hoje uma falta de transparência, principalmente em relação a esses dados. Acredito que também não havia o hábito de verificar tais informações. Portanto, considero fundamental, em termos de transparência, saber quem são as pessoas que ganharam determinado contrato”, concluiu.