O general Eduardo Pazuello virou grande motivo de preocupação para o Exército. Ele queria comparecer à audiência de hoje na CPI com o uniforme, com a intenção de associar sua atuação com a instituição. É tudo o que as Forças Armadas não querem. Antes da audiência, o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira voltou a falar com o presidente da Comissão, Omar Aziz, para assegurar que o Exército não fosse exposto e reafirmar que Pazuello estaria falando a título pessoal.

Já Pazuello tem outra visão. Ele se recusou a ir para a reserva quando assumiu o Ministério da Saúde e não perde nenhuma oportunidade de se associar à corporação. Até flertou com a possibilidade de ganhar a quarta estrela de Bolsonaro, passando uma rasteira nas regras que impedem essa promoção a um oficial de intendência. O Exército brecou a manobra, frustrando Pazuello. Também desagradou Bolsonaro, que perdeu a chance de ter um oficial dócil ao seu projeto autoritário de poder perto do comando da força. Essa combinação na Saúde, como se viu, resultou em desgoverno e tragédia.

Na CPI, mesmo assim, o ex-ministro mandou um recado sobre a adesão militar ao bolsonarismo. Pazuello ostentou uma gravata com as cores da bandeira, numa insinuação sutil, mesmo sendo impedido de ostentar as medalhas e estrelas. Citou um trecho do hino nacional (“Verás que um filho teu não foge à luta. E eu não fugi”) e também qualificou sua passagem pelo ministério como “uma missão cumprida”, como se tivesse agido no governo cumprindo o papel de militar.

Pelo resultado comprometedor de suas declarações, a “missão” desastrosa por pouco não mancha ainda mais a imagem do Exército. Para a instituição, serve o consolo de que o ex-ministro deixou claro que não chegou ao topo da carreira, pois tem “a segunda mais alta patente do Exército brasileiro”.

Assim como o presidente, que mal chegou a capitão após ser expulso em um processo por planejar atentados, Pazuello não representa a elite pensante da instituição. Cumpriu, por vontade própria, ordens nefastas de um presidente negacionista que nunca escondeu o desejo de dar um golpe.

Não é o que Exército pensa. Pelo menos é o que o comando deseja que fique como imagem. Como a corporação está cada vez mais capturada pelo bolsonarismo, a cúpula da corporação ainda vai ter muito trabalho para se manter distanciada de um governo que naufraga a olhos vistos.