Paz assume na Bolívia e promete "capitalismo para todos"

Paz assume na Bolívia e promete "capitalismo para todos"

"RodrigoConservador assume a Presidência após quase 20 anos de governos de esquerda. País latino-americano enfrenta a pior crise econômica dos últimos 40 anos, com falta de dólares e combustível.O conservador Rodrigo Paz, de 58 anos, tomou posse como presidente da Bolívia neste sábado (08/11), encerrando quase duas décadas de governos de esquerda no país latino-americano.

"Hoje começa uma nova era de independência, a serviço do povo. Esta é a nova Bolívia que se abre para o mundo", discursou ele em La Paz. "Nunca mais vamos nos isolar. Nunca mais o país será feito refém por uma ideologia. Ideologias não põem comida na mesa."

Paz assume em meio a uma grave crise econômica que assola o país – a pior em 40 anos –, com inflação anual de 23% e escassez crônica de combustível. "O país que herdamos está devastado, endividado moralmente e materialmente, com filas por combustível a perder de vista e mercados vazios", disse.

O mandatário prometeu uma política de "capitalismo para todos" e encaminhar o país gradualmente para uma economia de mercado, com o estreitamento de relações com os Estados Unidos e outros parceiros comerciais, bem como cortes em subsídios estatais.

Ele também mencionou a necessidade de estabelecer alianças políticas nacionais, já que a sigla dele, o Partido Democrata Cristão, controla apenas 39% dos 166 assentos da Assembleia Legislativa.

"Não nos deram um trono, mas uma tarefa", discursou. "Esta é a hora da verdadeira democracia e do respeito pela lei. Ninguém está acima da lei. Vamos superar o passado inglório e vergonhoso."

Paz, um ex-senador, venceu as eleições ao derrotar no segundo turno o rival de ultradireita Jorge Quiroga, que governou o país entre 2001 e 2002.

O socialista Luis Arce, que governava o país desde 2020, não tentou se reeleger por causa de uma disputa partidária interna e da crise econômica que assola o país.

Paz propôs reformas importantes, mas em um ritmo mais gradual do que Quiroga, que defendia o apoio a um resgate do Fundo Monetário Internacional (FMI) e a um programa agressivo de corte de gastos.

Além da crise econômica, ele também terá como desafio formar consensos políticos no país e ganhar a confiança de uma sociedade dividida entre ricos e pobres.

Quem é Rodrigo Paz

Filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora, que governou de 1989 a 1993, e da espanhola Carmen Pereira, Rodrigo Paz nasceu em Santiago de Compostela, Espanha, e passou lá sua primeira infância. Ele é economista e estudou relações internacionais, além de ter ampla experiência no setor público.

Seu pai, um dos fundadores do Movimento de Esquerda Revolucionária, de inspiração marxista, na década de 1960, exilou-se na Espanha para escapar da repressão do general Hugo Bánzer, um dos ditadores que governaram a Bolívia de 1964 a 1982. Paz Zamora retornou ao Peru quando Bánzer renunciou em 1978. Anos depois, em uma reviravolta irônica, ele fez um pacto político com o homem que o havia aprisionado e exilado.

Quando Paz Zamora concorreu à presidência em 1989, uma votação apertada levou a escolha do presidente do país ao Congresso da Bolívia, e o socialista fechou um acordo com o ditador que se tornou político conservador para garantir a vitória.

Seu mandato trouxe disciplina fiscal rigorosa e reformas de livre mercado para controlar a inflação, entusiasmando investidores, mas decepcionando seus antigos apoiadores de esquerda, que viram a desigualdade se agravar e o desemprego persistir.

Paz iniciou sua carreira política no partido de esquerda de seu pai, mas mais tarde, assim como o velho Paz, reformulou-se como um conservador comprometido com reformas pragmáticas e favoráveis ​​a empresários. Começou como deputado na câmara baixa do Congresso antes de se tornar prefeito de Tarija, no sul do país, de 2015 a 2020. Desde então, tinha cargo de senador.

Sua campanha à Presidência deslanchou inesperadamente com a escolha do ex-capitão da polícia Edman Lara como companheiro de chapa. Demitido da polícia em 2023 por denunciar corrupção em vídeos virais no TikTok, ele ampliou a mensagem anticorrupção de Paz e repercutiu entre os moradores indígenas da classe trabalhadora das terras altas da Bolívia, que antes constituíam a base do partido Movimento ao Socialismo (MAS).

Por que a Bolívia está em crise?

A Bolívia é uma das nações mais pobres da América do Sul e, antes de Paz, foi governada por quase duas décadas pelo MAS, do ex-presidente Evo Morales (2006-2019).

Na Presidência, o esquerdista Morales estatizou recursos energéticos do país. Mas se no início dos anos 2000 ele se beneficiou do boom das commodities, a queda nas exportações de gás natural e seu modelo econômico estatista de subsídios generosos e câmbio fixo eventualmente levaram a economia do país ao colapso.

O último governo exauriu boa parte das reservas em dólar da Bolívia, que agora enfrenta escassez da moeda, alta inflação e escassez crônica de combustível.

O país tem uma das maiores reservas do mundo de lítio, componente essencial para a fabricação de baterias e carros elétricos, mas ainda patina na exploração dos recursos. A expectativa é de que Paz abra o setor a investidores estrangeiros.

ra (AFP, AP, dpa)