Diante da constrangedora notícia de que se beneficiou com a alta do dólar por meio de contas milionárias no exterior, o ministro da Economia saiu da zona de risco no governo e foi jogado na frigideira. Não cometeu nenhuma ilegalidade, mas como é um dos arquitetos da desastrada política de valorização do dólar, sua situação ficou ainda mais delicada.

Agora, ele é vítima de fogo amigo. Quem o ataca não é mais a oposição ou os economistas de bom senso que sempre apontaram sua panaceia liberal como um embuste. Entre esses críticos há aqueles que defendem o liberalismo em diferentes gradações, mas adaptado, como deveria ser, à realidade social e política, que exige negociação e pragmatismo.

Guedes não tem capacidade de agir numa democracia nem competência para gerir reformas complexas, apontam especialistas bem mais gabaritados do que ele. Além de ampliar o custo Brasil, um fardo que nenhum governo recente teve capacidade de enfrentar, o ministro contribuiu para ameaçar o próprio Plano Real, um dos pilares da estabilização da moeda e da redemocratização. Está promovendo na economia a terra arrasada que seu chefe promove nas instituições.

O problema para Guedes é que o tempo está se esgotando para Bolsonaro e para o grupo que de fato controla o governo atualmente, o Centrão.  A popularidade presidencial está no chão e a volta da inflação, combinada com a impossibilidade de crescimento em 2022, eliminam a perspectiva de reeleição e prejudicam a votação de parlamentares do grupo fisiológico.

Por isso, já há um movimento coordenado na Esplanada dos Ministérios para jogar Guedes ao mar. Antigo posto Ipiranga (solução para tudo), ele virou um problema a ser eliminado. Bolsonaro quer usar a Petrobras para conter o preço do diesel e da gasolina. Junto com o Centrão, sonha em implodir o teto de gastos e usar o caixa da estatal  para abastecer os programas populistas e eleitoreiros que o coloquem de volta ao jogo em 2022.

Os caciques do Centrão pedem abertamente a cabeça do titular da Economia. Na bolsa de apostas de possíveis substitutos, apareceu recentemente Mansueto Almeida, ex-secretário do Tesouro Nacional (ele nega). Outro cotado é o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, mas seu passe está em baixa pela suspeita de ter sido um dos responsáveis pela volta da inflação (a habilidade do BC em impedir esse desastre está sob judice). Antigo candidato ao posto e desafeto do Guedes, o ministro Rogério Marinho (Desenvolvimento Social) achou melhor concentrar suas chances numa vaga no Senado. Mas não faltarão candidatos a se juntar à nau bolsonarista, que está naufragando, mas ainda esconde muita riqueza. O Centrão conhece o mapa do tesouro.