Bolsonaro deveria obrigar o ministro Paulo Guedes a pagar, do próprio bolso, com o resultado dos lucros exorbitantes de sua offshore no Caribe, os absorventes higiênicos para 5,5 milhões de meninas carentes, mulheres em condição de rua e presidiárias, que, por falta de dinheiro, são obrigadas a usar miolo de pão ou jornal velho para conter o fluxo menstrual, já que não possuem recursos próprios para isso. Senão, vejamos. O presidente insensível vetou nesta quinta-feira o pagamento do programa aprovado no Congresso para que o governo banque, por meio do SUS, o pagamento de absorventes para 5,5 milhões de mulheres miseráveis, sobretudo adolescentes que estudam em escolas públicas – todas abandonadas pelo Estado e pela desigualdade social, marca de sua gestão -, alegando que o seu governo não tem dinheiro para arcar com os custos do benefício. Ele afirmou que os congressistas, ao aprovarem a medida, não estipularam de onde viria o dinheiro.

Sendo assim, vamos explicar onde o bárbaro presidente poderia obter os recursos para socorrer essas mulheres desprezadas à própria sorte, que, sem os absorventes íntimos, acabam ficando expostas a infecções por usarem materiais inapropriados para conter a menstruação. Em primeiro lugar, o próprio projeto da deputada Marília Arraes (PT-PE) já especifica que os recursos devem ser redirecionados do orçamento do SUS. São aproximadamente R$ 48 milhões. Valor insignificante, considerando que só com o superfaturamento da Covaxin, que o Ministério da Saúde estava comprando por R$ 1,6 bilhão, previa valores milionários em propinas.

Mesmo que o SUS não tivesse esse dinheiro, o que não é verdade, o governo deveria tirar esses valores das emendas parlamentares, estimadas em quase R$ 30 bilhões, e que muitos deputados e senadores estão usando para comprar tratores com preços muito acima dos de mercado. Tem trator sendo comprado por até 260% de superfaturamento. O governo poderia tirar o dinheiro ainda das motociatas que o presidente faz por aí, destilando ódio e desunião nacional. Cada um desses insanos passeios de moto do presidente, tem custado R$ 3 milhões aos cofres públicos. O presidente poderia também usar seu milionário cartão corporativo, usado sem nenhum controle, para comprar milhares de toneladas de leite condensado, carne de primeira, vinhos e uísques caros, além dos gastos descontrolados com as comprinhas feitas quando ele e a primeira-dama viajam ao exterior por conta do erário.

Mas, o mais justo mesmo, seria Bolsonaro mandar Paulo Guedes pagar essa despesa com o lucro que ele obtém com a offshore Dreanoughts Internacional, sediada nas Ilhas Virgens Britânicas, conta onde ele depositou, em 2014, uma fortuna de US$ 9,55 milhões. Na época, o dólar valia R$ 2,23 e ele depositou lá no paraíso fiscal o equivalente a R$ 21,2 milhões. Hoje, ele tem nessa conta a bagatela de R$ 52,7 milhões, considerando que o dólar está cotado a R$ 5,52. Ou seja, a cada valorização do dólar em 1%, ele ganha R$ 955 mil. Quase R$ 1 milhão por dia. Somente ontem, quando o dólar subiu 0,72%, Guedes ganhou R$ 687 mil. Isso, num único dia.

Bem, muita gente dirá: esses recursos não são públicos, são fruto do trabalho que ele ganhou como acionista do Banco Bozzano. Tudo bem. É verdade que ele não roubou esse dinheiro para colocar no exterior. Óbvio que não, embora seja meio estranho ele ter feito isso às escondidas dos brasileiros. Deveria ter informado isso à Nação quando assumiu o cargo. Não se trata aqui de analisar a questão somente pela ótica técnica. É legal ter uma offshore no exterior, desde que ela seja informada à Receita e ele disse ter feito isso. Muito bem. Legalmente tudo certo. Mas há a questão ética e moral, além do evidente desrespeito à legislação que reza sobre o conflito de interesses. Ocorre que, como ministro da Economia, Guedes tem adotado medidas econômicas que estão provocando uma constante valorização do dólar (a inflação elevada, a alta dos juros, o desemprego recorde, o baixo crescimento. etc, etc) e a cada dia que o dólar sobe um pouco mais, ele fica muito mais rico. Assim, é de se esperar que Paulo Guedes se sensibilize e arrume dinheiro para pagar os absorventes das meninas carentes. É uma vergonha que elas tenham que viver como se vivia nos primórdios da civilização.