Continua muito mal contada a história do ataque da Polícia Militar de Pernambuco aos manifestantes de esquerda que caminhavam pelo Recife, no sábado. 

O caso teve hoje um desdobramento importante: a troca no comando da corporação. O coronel Vanildo Maranhão pediu exoneração do cargo e foi substituído pelo também coronel José Roberto Santana.

Mas isso, por si só, não ajuda a esclarecer se a ação foi toda orquestrada por oficiais da PM ou se houve também alguma participação do governo. 

Essa última hipótese não pode ainda ser descartada. Não é segredo que a cisão na esquerda em Pernambuco é particularmente forte. Uma passeata encabeçada pelo PT não seria necessariamente bem vista pelo governador do PSB, que talvez tenha se sentido afrontado pelo desrespeito a um decreto seu que proíbe aglomerações no Estado. 

É sabido que Antônio Pádua, o Secretário de Defesa Social de Pernambuco, acompanhou a passeata no sábado em um centro de monitoramento, juntamente com o comando da PM. Ele pode ter ordenado a dispersão do ato público. Ou pode ter ficado em silêncio depois que a repressão começou. 

Nesses dois casos, o ex-comandante da polícia Vanildo Maranhão está arcando sozinho com uma responsabilidade que deveria ser compartilhada com o governo de Paulo Câmara (PSB). 

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Esse é um enredo que tem maior repercussão local. Mas há também a hipótese de que as balas de borracha disparadas sem qualquer provocação e sem qualquer cuidado pelo batalhão de choque expressem um bolsonarismo latente na PM pernambucana. Esse enredo traz repercussões nacionais. 

Perfis da PM nas redes sociais trazem indícios de que esse pode ser o caso. No fim de semana, um perfil não oficial da Rocam de Pernambuco deixou estampados os dizeres “Contra o Comunismo” no Instagram e no Twitter. 

Além disso, a página oficial de um batalhão da PM de Recife ajudou a propagar uma informação falsa, disseminada em blogs de direita, segundo a qual a polícia apenas reagiu a um ataque feito com pedras. 

Esse incidente de fato aconteceu, mas bem depois dos disparos que deixaram dois homens cegos e causaram o término da passeata anti-bolsonarista quando ela se preparava para cruzar a ponte Duarte Coelho. Ele nada teve a ver com a manifestação. 

O governo de Pernambuco não pode deixar no ar essa ambiguidade. Precisa esclarecer qual o seu papel no incidente lastimável do fim de semana e também se a Polícia Militar subordinada a ele está, ou não, agindo segundo ditames que vêm de Brasília e nada têm a ver com a cadeia de comando e as questões locais de segurança.


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