Rio – A corrupção é hoje, sem qualquer margem de dúvida, o maior inimigo do Brasil, devastando o nosso país. Os políticos, autoridades e servidores públicos sempre foram excelentes companheiros, andando de mãos dadas no cometimento dos crimes por eles praticados.

A engrenagem da corrupção funciona perfeitamente visto a associação existente entre as organizações criminosas e os políticos. Centenas de autoridades, deputados, senadores e presidentes estão sendo acusados, processados e inclusive alguns já até condenados criminalmente por envolvimento com organizações criminosas.

Engana-se quem pensa que corrupção é coisa atual e que os seus protagonistas são apenas os que ocupam diariamente a mídia.

É impossível citar todos os corruptos, os malfeitores, os mentirosos que a história registra. Eles sempre existiram. Cícero (106-43 a.C), grande tribuno romano, já revoltado com isso, perguntou: “Quousque tandem abutere patientia nostra” que significa “até quando abusarás da nossa paciência?”.

Já na Renascença italiana, papas como Alexandre VI, Júlio II e Leão X dão continuidade à prática de corrupção, acabando por detonar a revolta de Lutero e a criação da religião protestante. A corrupção é uma velha companheira do homem. É mais evidente hoje por causa da imprensa e das regras do direito público. Na maioria dos contratos hoje, paga-se propina.

A Indústria Criminosa S/A só é do tamanho e com tanta sofisticação porque os nossos políticos e autoridades são verdadeiramente cúmplices. A corrupção generalizada, cínica, quase inconsciente, praticada hoje, é de uma crueldade que só pode ser considerada um câncer.

A corrupção como já foi dito, é o câncer do Brasil e ocorre em todos os níveis, dos pequenos delitos diários aos bilionários desvios financeiros no poder público e privado. O maior impacto da corrupção é sobre os cidadãos mais pobres que não têm condições de absorver seus custos.

Ao desviar recursos públicos, a corrupção compromete serviços de saúde, educação, transporte e segurança pública, justo os mais importantes para as classes menos favorecidas. A corrupção em pequena escala representa um custo adicional ao tornar os serviços inadequados e ineficientes.

A corrupção é o mal que exaure a dignidade e a cidadania do povo, drena a riqueza do Brasil e desvia recursos que proporcionariam o bem-estar e o progresso do país para o bolso e privilégio dos políticos, autoridades e empresários.

Os brasileiros chegaram ao limite da tolerância. Não há mais como postergar a ruptura com as antigas práticas administrativas de nepotismo, clientelismo e pilhagem do patrimônio nacional.

Creio que o Brasil ainda poderá ser melhorado, porque a mídia está furando os tumores da corrupção nesse seu processo investigatório, merecendo destaque a independência e a intensificação das ações e investigações da Polícia Federal nos últimos anos, com as eficazes operações, levando à descoberta de inúmeras quadrilhas de assaltantes do erário, revelando a formação de sofisticadas Organizações Criminosas, o conluio e o envolvimento criminoso de parlamentares, governantes, empresários, juízes e servidores públicos graduados e profissionais em falcatruas, desvio de recursos públicos etc.

Mas, como a esperança é a última que morre, continuemos acreditando que o nosso lindo Brasil ainda poderá ser salvo e que os três Poderes da República sejam compostos por uma maioria de cidadãos dignos, honrados, inteligentes e corajosamente comprometidos com o bem comum.

Acredito na boa-fé, admiro e respeito o trabalho e iniciativas dos, infelizmente ainda poucos, empresários, intelectuais, lideranças da sociedade civil, autoridades, políticos e órgãos de imprensa nacional e internacional que descruzaram os braços e contribuem para a compreensão e combate ao problema, ao invés de permanecerem alienados e omissos; mas é preciso reconhecer que a transição é lenta e traumática, contudo pode iniciar já nas próximas eleições.

O Brasil é um dos melhores países do planeta e precisa ser passado a limpo, porque a maioria do povo é bom e merece respeito e consideração.

Paulo Adib é coordenador do Núcleo de Segurança Pública da Associação das Nações Unidas no Brasil – ANUBA e Gerente da DISI do Grupo Microcamp