A maior concentração de casos de coronavírus na capital está levando muitos paulistanos a se refugiar em cidades do interior e do litoral paulista para cumprir a quarentena recomendada pelas autoridades. Em partes do litoral e regiões distantes do interior a circulação do vírus ainda é menor, conforme os números oficiais. As famílias que estão fugindo de São Paulo relatam mais facilidade para ficarem isoladas, menor risco de contágio e o alívio psicológico proporcionado pelo contato com a natureza.

Atento às recomendações do Ministério da Saúde sobre o isolamento social contra o coronavírus, o advogado paulistano Dario Orlandelli, de 81 anos, optou por unir o necessário ao agradável. Dono de um rancho de pesca em Pirassununga, cidade do interior onde mora uma de suas filhas, ele deixou a capital há dez dias, na companhia da esposa, e passa as horas fazendo o que mais gosta. “Fico pescando no rio Mogi Guaçu, sem ser influenciado pelo noticiário. Pego uns peixinhos e solto. É uma terapia e, ao mesmo tempo, uma proteção, pois aqui é bem isolado. A gente tem de se cuidar, mas não pode morrer tédio.”

Ele conta que a esposa, menos afeita à pescaria, fica em casa da filha, na área urbana. A filha e o genro são professores no campus local da Universidade de São Paulo (USP). “Não tem criança em casa e eles também estão seguindo as regras do isolamento.”

Dario Orlandelli e a esposa moram em um apartamento, no bairro da Lapa, zona oeste da capital, que está fechado. “Sem poder sair, devido ao risco, a gente ficava a maior parte do tempo na TV vendo notícias pouco agradáveis. Agora, estamos bem resguardados, com o emocional mais leve e vamos ficar (no interior) o tempo que for necessário.”

O empresário Nemer Ibrahim Chiah, de 44 anos, e sua esposa, a cirurgiã dentista Maison Ghandour, de 40, deixaram a capital há duas semanas e foram para a quarentena, com os filhos, Ibrahim, de 8 anos, e Hayfa, de 5, na casa de veraneio da família em Ilhabela, litoral norte de São Paulo. “Costumo vir para a ilha de 15 em 15 dias para passar o fim de semana. Desta vez, antes de começarem os bloqueios, já vim com a família e pretendo voltar só quando acabar essa quarentena.” A família reside em Interlagos, na zona sul da capital, e tomou a decisão em busca de maior isolamento.

Chiah afirma que a família passa a maior parte do tempo em casa. As crianças estudam e brincam, enquanto ele e a esposa cuidam dos afazeres domésticos. “Minha casa fica muito distante do centro, na costa sul da ilha, e saímos o mínimo possível. Temos uma moça que nos ajuda aqui, é nossa funcionária, mas esses dias ela não está vindo. Nossa rotina está sendo assim: a gente acorda, procura fazer alguma atividade física, caminha um pouco onde não tem gente e, no mais, é ficar em família.” Em quase 15 dias, ele saiu de casa duas vezes. “Estamos tranquilos, rezando para que dê tudo certo e isso passe logo.”

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O artista plástico André Balbi, que mora em Moema, na zona sul da capital, buscou refúgio com parte da família – a esposa, a enteada e uma filha – nas montanhas de São Francisco Xavier, na Serra da Mantiqueira, onde há 25 anos mantém um ateliê. “Minha base é em São Paulo, onde meus filhos estudam, mas com essa história toda decidimos nos isolar no interior, tentando nos proteger.” Balbi tinha uma exposição na galeria São Paulo Flutuante, agendada para 28 de março, que foi desmarcada devido ao coronavírus. A mostra marcaria a inauguração da galeria.

Apesar do isolamento, o trabalho do artista não parou, como conta. “As meninas, que estudam na PUC, estão fazendo os cursos à distância. Minha esposa, que é designer, trouxe o computador e está trabalhando. Eu também não parei. O trabalho de criação continua, mas, em vez de ser no nosso apartamento, é aqui nesse paraíso, cercado pelas mil árvores que eu mesmo plantei.”


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