No meio artístico desde a década de 1990, Paulinho Vilhena completou 46 anos em 2025. Isso não significa, no entanto, que seu vigor e carisma tenham diminuído se comparados à adolescência.
Recebido nos estúdios IstoÉ para a gravação do quadro IstoÉ Gente Como a Gente, que mostra um lado espontâneo e pessoal de personalidades brasileiras, Paulinho chegou cheio de energia e simpatia, mostrando o motivo pelo qual se tornou o galã favorito das adolescentes dos anos 2000. Com simpatia de Gu, de “Sandy & Júnior” (1999 – 2002), e charme de Marco, de “A Teia” (2014), o ator falou sobre seus personagens mais marcantes e se derreteu ao contar um lado novo de si: o de pai de primeira viagem.
Casado com a advogada e influenciadora Maria Luiza Vilhena, 27, desde 2023, Paulinho se tornou pai da pequena Manoela no mesmo ano. Apesar de compartilhado nas redes sociais, o “papel” ainda é pouco explorado pelo ator, que recentemente passou a viver em Araçariguama, no interior de São Paulo, com a família.
Ainda durante a entrevista, Paulo — que está fora da Globo desde 2021 — explicou que não abandonou a atuação, mas tem se dedicado a projetos paralelos.
Acompanhe o bate-papo:
IstoÉ Gente: Longe das novelas desde 2018, em que momento da vida você está vivendo?
Paulinho Vilhena: Eu estou vivendo o meu melhor papel, que é ser pai. Estou vivendo a paternidade pela primeira vez. Sempre sonhei com esse momento na minha vida. E ele chegou, com certeza no melhor momento da minha vida, porque acho que eu me preparei.
Acho que a maturidade dá uma paz, uma tranquilidade maior para viver integralmente o processo. Desde que eu conheci a minha mulher, ao tempo que a gente namorou, a gente pensou, planejou a gravidez. Todo esse processo, eu sinto que tive a paz e a tranquilidade de vivê-lo de uma forma que eu talvez não vivesse antes.
O que eu sinto é que estou vivendo em plenitude a vida em casamento e a vida em paternidade. E obviamente, continuo trabalhando, continuo fazendo minhas coisas, continuo me divertindo, viajando. Mas acho que no topo desse tempo é a minha vida em família.
Por que abrir mão do Rio de Janeiro e voltar a morar no interior de São Paulo com sua família?
PV: Eu morei no Rio durante 23 anos. A minha casa, meu lar, eu construí no Rio. Enquanto a Luiza estava grávida, a gente ficou aqui por São Paulo. Mas depois, quando a Manoela nascesse, a ideia era voltar para o Rio. Só que aí a gente começou a perceber que a gente ia ficar longe da minha família, da família da Luísa, de muitos amigos.
A gente se viu numa situação do tipo, ‘O que a gente vai fazer lá?’ A gente ia abrir mão de ter uma estrutura familiar, uma rede de apoio, para estar num lugar que é lindo, tem praias, o mar, que eu amo. Mas agora não é mais sobre mim, né? É sobre elas. É uma escolha que a gente fez ponderando o melhor para nós todos.
Meus pais puxavam trailer pelo Brasil, acampando em vários lugares. Em 1979, quando minha mãe estava grávida de mim, eles pararam em um camping em Araçariguama e lá ficaram. Então eu digo que eu sou um caiçara do mato, porque eu nasci em Santos.
Eu passava o dia a dia em Santos, estudando, vivendo aquela vida ordinária praiana. E aí, no final de semana, a gente ia para o camping. Desde 1979 a gente está no mesmo lugar com a maioria das famílias que se mantiveram. É um lugar onde a gente se sente muito bem, muito acolhido e em família. [Lá] Eu vivi experiências que me fizeram me tornar o cara que eu sou hoje. As primeiras coisas, primeiro beijo, primeira briga, primeiro namoro, primeira transa… Todas as primeiras coisas eu estava nesse ambiente.
Sua esposa Malu já contou, nas redes sociais, que te esperou no bar de um hotel para te conhecer sozinha. Qual foi a sua perspectiva ao vê-la pela primeira vez?
PV: Quando a gente se conheceu, foi algo que ela planejou, mas para mim era uma surpresa. Na minha perspectiva foi: ‘Está acontecendo alguma coisa, acho que é uma pegadinha, uma miragem’. Porque imagina: um bar de hotel semifechado, com a luz já meio apagada, uma pessoa sentada lá no fundo, com um copo baixo de uísque, calça jeans, salto alto. Falei: ‘Meu, o que é isso? É sério?’ Daí eu perguntei pro maître, que eu já conhecia: ‘Cascão, existe? O que está acontecendo?’ Aí ele falou assim: ‘Tá aí’. Eu falei: ‘Mas tá acompanhada?’ Ele falou: ‘Não’.
Vesti minha cara de pau, pedi um drink e me aproximei. Mas só que isso tudo estava já dentro de um plano dela. E deu certo.
Quando ela me disse que tinha arquitetado aquele plano, achei o máximo, achei mais legal ainda. Porque foi tudo tão espontâneo, e em momento nenhum, ali, naquela hora, ela deixou transparecer.
E como se desenrolou o relacionamento de vocês?
PV: Foi muito intenso. Porque a gente, daquele momento em diante, se colou, se conectou muito fisicamente. As ideias, as conversas batiam, as perspectivas, gostos musicais… Então a gente foi se enamorando e começou a estabelecer uma vida cotidiana de se encontrar. Eu estava ensaiando a peça, ela estava estudando, e a gente, sei lá, almoçava junto. Depois ia dar um ‘rolé’, aí viajava no final de semana. E aí foi se aproximando, foi virando um namoro.
E aí teve um momento, depois de algum tempo, onde a realidade se coloca. A partir do momento em que ela começou a se abrir, eu fui entendendo que ela estava vivendo uma história difícil na vida dela profissionalmente, o que levou a um uso excessivo de medicação.
Ela trabalhava com direito, com advocacia, e o escritório demandava muito. E aí ela começou a tomar um remédio para foco, performance, e ficou adicta ao remédio. Ao mesmo tempo em que ela tomava um remédio para ter esse foco, ela também tomava outro remédio pra desacelerar. E isso foi se tornando algo muito grande, em doses, a ponto de causar nela uma dependência. No auge de uma das crises, ela teve uma crise dissociativa, que é algo que ‘você não reconhece a pessoa’. Ela também não se reconhece, não sabe o que está fazendo, não sabe onde está, não sabe como chegou. Aquilo me assustou demais, eu não sabia lidar, não sabia o que fazer.
O que eu consegui fazer foi ligar para os pais dela e falar que estava acontecendo algo sério, que eu não sabia o que era, mas que era importante eles saberem e conduzirem como família da melhor maneira.
O que aconteceu depois disso?
PV: Nesse momento a gente se distanciou, porque ela foi se tratar. No meu coração eu sabia que eu estava fazendo o melhor, porque se eu tomasse para mim a situação, absolutamente, podia ser ruim. Primeiro, eu não tenho conhecimento clínico para cuidar de alguém. Segundo, eu como namorado, na época, talvez não tivesse autoridade para determinar algumas coisas. Então eu achei a melhor saída delegar para a família o cuidado que deveria ser tomado naquele momento.
Eu me distanciei propositalmente, porque sentia que qualquer brecha que eu desse poderia tirar ela daquele momento de tratamento, de cuidado, de recuperação, de reabilitação. Então eu fiquei sofrendo, mas também consciente de que era o melhor a ser feito.
Nove meses depois, ela recebeu alta do tratamento e aí a gente voltou a se encontrar. Foi muito lindo e muito louco, porque eu conheci uma pessoa totalmente diferente da que eu estava vivendo. A que eu convivi antes era muito legal, era muito gostoso, era verdadeiro, mas estava mascarada pela medicação. Quando eu a reencontrei foi melhor. Veio carinho, veio afeto, sentimentos que ela não conseguia demonstrar e receber. Aí tudo fez mais sentido ainda.
Como vocês lidam com o assédio de fãs e com o seu passado amoroso?
PV: Ela ama. Eu acho engraçado porque ela tem orgulho, fala para todas as amigas, para todas as pessoas: ‘Ele já pegou a Sandy, ele já ficou com a Luana, ele já ficou com não sei quem’. Eu fico com vergonha e ela fica me botando numa estante como um troféu dela. Eu acho o máximo porque talvez, em outras situações, fosse o oposto, de virar um ciúme, uma briguinha de ego, sabe? E pelo contrário: ela deixa muito leve e divertido.
Como você acredita que a calvície, ainda aos 20 e poucos anos, tenha te afetado profissionalmente?
PV: Principalmente na autoestima. Cabelo e barba são possibilidades de mudança para construção de personagem. Então ficar careca era uma ‘parada’ que eu ficava assim: ‘P*ta, vou ficar com a autoestima baixa, vou ficar sem opção de mudança para construir personagem’ — o que deixava a autoestima ainda mais baixa ainda [e trazia] uma preocupação com esse lado profissional.
Foram várias tentativas [de implante capilar] e foram, na maioria delas, todas frustrantes, porque era uma técnica muito nova e os profissionais não estavam preparados.
Quando começou a bombar esse negócio da Turquia, resolvi ir e tentar um resultado melhor do que os que eu tive. Mas tive uma amiga que intercedeu e me indicou uma clínica em São Paulo, e eu fui. Ele me salvou, me curou de algo que estava me incomodando muito.
Quais foram os personagens mais marcantes da sua carreira?
PV: No cinema, tem ‘O Magnata’, que foi um filme muito geracional com o roteiro do Chorão e direção do Johnny Araújo. Era uma galera muito da cena musical, e o Charlie Brown Jr. era uma banda que ‘arrebentava’, né? Levava multidões para todos os lugares onde ia. Quando o Chorão escreveu o roteiro e a gente filmou, eles estavam no auge, e foi um filme que chegou muito longe para uma geração até hoje. Eu passo na rua [e falam]: ‘E aí, Magnata, vão roubar o bagulho?’
Na TV, tem personagens pelos quais eu tenho muito carinho — como o primeiro personagem em ‘Sandy & Júnior’, o Gu, que também pegou uma galera enorme que hoje está com seus 30, 35 anos. Teve ‘Império’, que foi um personagem bem intenso, bem denso, um esquizofrênico que pintava.
Eu acho que a novela ‘Império’ me deu a oportunidade de quebrar aquele paradigma do cara que só faz o personagem tal, ‘Ah, o bonitinho’ ou ‘o surfista’. A TV tinha essas prateleiras, e esse personagem me deu a oportunidade de fazer uma transição de maturidade dramática, de trazer uma interpretação que talvez o público não imaginasse. Era sempre algo que eu fazia no teatro, fazia no cinema, mas não chegava, talvez, ao grande público.
Em entrevista ao programa de Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso, você mencionou que já participou de festas de sexo. Alguma delas ficou famosa?
PV: O ‘Surubão de Noronha’? Esse ‘Surubão’ durou anos a fofoca, mas não me convidaram para essa festa ‘pobre’ que os homens amaram [risos]. Me deu muito trabalho, porque isso foi uma fofoca tão grande que todo mundo falava: ‘E aí, como é que foi?’ E eu falava: ‘Gente, não chegou esse convite pra mim’. E, na verdade, eu acho que foi uma grande cortina de fumaça.
No mesmo programa, você contou que já foi ‘mestre de cerimônia’ de festas de sexo. Como isso funciona?
PV: Ah, é a pessoa que organiza, que convida, faz a escalação, que na hora dos encontros proporciona algum direcionamento. Falo assim: ‘Gente, está muito confuso. Vamos organizar’ [risos].
Muitos artistas têm se posicionado contra a reprise de novelas na televisão sem remuneração posterior. Qual sua opinião sobre o assunto?
PV: Ah, você assina um contrato, né? Se você assinou, você leu e assinou, você está concordando. Então não pode chorar o leite derramado.
Eu acho que são reprisadas [as novelas] porque fizeram muito sucesso. Fizeram muito sucesso porque existiam autores incríveis com uma dramaturgia muito específica da época e que fizeram clássicos. Então quando você vê uma reprise fazendo sucesso, você pensa e chega à conclusão de que clássico é clássico porque ele é atemporal. Se você puser ele daqui a 20 anos, continuará fazendo sucesso. E aí você fala: ‘Poxa, mas não tem bons autores hoje em dia?’ Eu acredito que sim, mas, ainda assim, os clássicos são os clássicos. O problema vai ser quando acabarem, aí vão ter que criar novos clássicos. Acho que esse é o grande desafio da dramaturgia.
Você sentiu que sua autoeliminação foi parte de um plano de outros jogadores em ‘No Limite’?
PV: Não, o plano foi todo meu. Eu que arquitetei o plano inteiro, porque eu tinha o poder de imunidade que eu poderia usar para qualquer pessoa até um determinado período. E aí eu vi que o jogo começou a entrar para um lado muito individual. Quando eu estava em equipe, estava legal, porque era uma equipe contra a outra e a gente ia se protegendo.
E aí quando começou a afunilar, começou a dividir muito, eu falei: ‘Vai começar a dar m*rda’. Porque é um convívio muito intenso, um desgaste emocional, físico e mental bizarro. Passa-se fome, ‘rola’ uma alucinação. Você deita, as coisas ficam brotando na sua cabeça, você fica fraco, você desmaia. Em termos de realidade do que acontece ali, eu sou prova viva e assino embaixo de que é tudo extremamente real, e isso vai desestabilizando muito emocionalmente.
Para não chegar em um ponto onde esse emocional pudesse me prejudicar, na hora que eu vi que o jogo começou a ir para um lugar de fofocas, de intriga, eu comecei a pensar. Minha mulher estava grávida e eu estava já com o emocional muito aqui, com ela, distante, tendo que ficar 40 dias longe. Aí eu falei: ‘Cara, não vai fechar essa conta para mim, eu vou ter que arquitetar alguma coisa aqui’.
Eu já sabia o que estava rolando no grupo, de escolha de voto. A gente ia para um portal naquela noite e eu sabia que todo mundo ia votar no Fulý. Eu falei: ‘Estamos juntos, vamos nessa’. Só que eu tinha a parada na mão. E quando a gente foi para o portal eu falei para o Fulý: ‘Vota em mim que eu vou te salvar’. Salvando ele, eu ia embora com um voto. E foi isso que rolou.
Todo mundo votou nele e ele votou em mim. Na hora que o Fernando [Fernandes] perguntou se alguém queria usar a imunidade, eu falei: ‘Quero usar’. Aí eu salvei ele e fui embora com um voto.
Você participaria de outro reality show?
PV: Realities… Eu acho que eles são muito interessantes para acabar com a perspectiva de algo positivo para a sociedade. O ‘No Limite’ tem algo mais interessante para mim, como público e como participante, que é o lance do desafio, da superação, do contato com a natureza, de você estar em um ambiente que você se desafia fisicamente, mentalmente. Agora, sei lá, um ‘Big Brother’ da vida: eu acho muito superficial, fica sempre naquela discussão de ‘o que eu sou’, de ‘como eu sou’, do ego, da vaidade.
É uma discussão que fica muito nessa superfície. As pessoas entram e já desvendaram o jogo, e as pessoas continuam assistindo e reproduzindo os padrões que são criados ali dentro. E isso eu acho meio que não-sadio, na minha opinião, como público.
Se pudesse, você faria algo diferente em sua vida?
PV: Nossa, pode ser meio ingratidão, né? Tá tudo certo, tá tudo ótimo. Só agradeço a Deus por tudo o que me foi dado, pela minha saúde, pela minha família, pelo meu trabalho. Só agradeço, agradeço, agradeço o tempo todo.