O atacante Paulinho fez uma forte reflexão sobre estar às vésperas de disputar uma Olimpíada com a camisa da Seleção Brasileira. Em carta publicada no “The Player’s Tribune”, o jogador de 21 anos recordou seus primeiros passos no futebol, sua evolução no Vasco até chegar à Seleção olímpica.

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Em seguida, fez um forte desabafo sobre as desigualdades sociais que assolam o Brasil, detonou condutas do presidente Jair Bolsonaro e destacou que o bicampeonato olímpico pode ser um alento para um país que lida com a pandemia de Covid-19.

“Rezo todos os dias para que Exu ilumine o Brasil e os nossos caminhos. Que os orixás nos deem forças pra buscar essa medalha de ouro. O brilho dela seria um alento para o povo brasileiro após tantos meses de caos no país”, disse.

O atacante do Bayer Leverkusen trouxe lembranças de sua família e do fato de seu irmão ter recebido o nome de Romário justamente quando o Baixinho ainda defendia o Flamengo. Além disto, recordou que seu apelido de infância, na Vila da Penha, era Edmundo, e no bairro passou a dar seus primeiros dribles, até que “o futsal virou minha base. Ganhei muito recurso, drible em espaço curto, raciocínio rápido… Aprendi praticamente tudo no salão”.

Em seguida, recordou suas passagens no Madureira e no Mello Tênis Clube até se concentrar em definitivo no Vasco.

O jovem também recordou-se dos dois gols que marcou no 2 a 1 sobre o Atlético-MG, no Independência, em partida na qual saiu do banco para se tornar herói da equipe na partida.

“Marcar dois gols na estreia como titular? Nem nos meus melhores sonhos eu poderia imaginar. Na hora, parece que nada acontece. Não vi nem a bola entrando no segundo gol, pra dizer a verdade. Só no dia seguinte, quando eu cheguei no aeroporto e vi aquele monte de repórter querendo falar comigo, toda minha família no saguão pra me receber, é que a ficha caiu”.

Além disto, falou que a transferência para o Bayer Leverkusen não abalou o carinho pelo Cruz-Maltino: “muitos atletas que vão jogar lá e não sabem o que é o Vasco. Não sabem da história, muito menos por que a torcida é tão apaixonada, mesmo com o time enfrentando dificuldades”.

Paulinho ainda citou que não aceita que falem mal do clube:

“Na época de seleção de base, a galera pegava no meu pé porque o clube estava na segunda divisão. E eu comprava briga, sempre. Não aceito que ninguém fale mal do Vasco na minha frente. A história do clube é muito bonita, precisa ser respeitada”, e ressaltou:

“O Colégio do Vasco da Gama, então, merece um capítulo à parte. É onde a gente aprende o que faz dessa instituição tão especial. O Vasco é o clube que cresceu por acolher a diversidade e aceitar as diferenças. Eu me identifico plenamente com esses valores”.

Posteriormente, o atacante falou sobre sua forte ligação com o candomblé.

“Religião, não. Prefiro chamar de filosofia de vida. Uma coisa bem pessoal, que toca o meu coração. Sou eu comigo mesmo, entende? Cultuar essa filosofia me traz muita energia boa, muito axé. Como assentado e praticante, vou ao meu pai de santo sempre que estou no Brasil e peço proteção aos orixás, principalmente ao meu Pai Oxóssi e à minha Mãe Iemanjá. Laroyé”.

E, em seguida, desabafou sobre intolerância religiosa.

“Por tudo que nosso país já sofreu, temos não só o preconceito com religiões de matriz africana, mas também de outras naturezas, como de raça, gênero e orientação sexual. Como uma pessoa que tem voz, eu não posso me dar o direito de permanecer calado. De não me posicionar diante de preconceitos e negligências”.

O atacante também frisou seu desabafo para lutar contra a discriminação.

“Hoje, milhares de pessoas me seguem nas redes sociais. Algumas delas me têm como exemplo. Enfim, sou uma pessoa que tem voz. Justamente por isso, quero que essa corrente de luta contra a discriminação siga se alongando. Não interessa a crença. Cada um pode manifestar sua fé do jeito que bem entender.

Paulinho também fez críticas à conduta do governo de Jair Bolsonaro em meio à pandemia de Covid-19.

“Se sou crítico do atual Governo, é porque eu confio na ciência. Todo mundo enxerga o que se passa durante esse um ano e meio de pandemia, todo o descaso com a saúde. Mesmo vivendo em outro continente, tenho pessoas queridas que moram no Brasil. Elas precisam de segurança, de amparo, de vacinas”.

E, em seguida, reforçou.

“Depois que me mudei para a Alemanha, eu descobri que o nosso país ainda pode melhorar em inúmeros aspectos.

“Ah, tá com a vida ganha…”

Isso é o que muitos dizem sempre que eu manifesto alguma opinião sobre política. Não importa se sou um jogador de futebol que atua no exterior. Nada a ver com dinheiro ou patriotismo. Eu faço parte da sociedade. Continuo sendo um cidadão brasileiro, que se emociona ao ouvir o hino nacional”.

Além disto, falou sobre a relevância do esporte para fortalecer a população.

“O esporte me ensinou que, se a gente se unir, nos fortalecemos. Sei da responsabilidade que é representar uma nação gigante. Me sinto muito honrado, desde que cheguei na seleção de base, aos 14 anos. Eu passei por todas as categorias, sei do que estou falando. Posso me considerar um veterano com a amarelinha”.

Aos seus olhos, disputar os Jogos Olímpicos é um privilégio.

“Olho para o escudo e vejo cinco estrelas. São cinco Copas do Mundo. É uma camisa pesada. Quem nunca experimentou o sentimento de vesti-la, jamais poderá imaginar o que significa disputar uma Olimpíada”.

E, além de lembrar do seu irmão Romário, Paulinho fez um apelo.

“Rezo todos os dias para que Exu ilumine o Brasil e os nossos caminhos. Que os orixás nos deem forças pra buscar essa medalha de ouro. O brilho dela seria um alento para o povo brasileiro após tantos meses de caos no país.

A cada novo desafio, eu acredito ainda mais que nada acontece por acaso. Se estou aqui, é porque fui bem guiado pela minha família, pela Família Madureira, pela formação que tive no Vasco, pela receptividade que encontrei na Seleção… Pela filosofia de vida que eu escolhi seguir.

Nunca foi sorte, sempre foi Exu”.