Paul McCartney alerta para riscos de uso de IA na música

LONDRES, 27 JAN (ANSA) – O astro do rock e lenda dos Beatles Paul McCartney fez um alerta sobre o impacto do abuso da Inteligência Artificial (IA) na música, enfatizando que as mudanças propostas na legislação de direitos autorais podem permitir tecnologias que “roubam os artistas e músicos”.   

Em uma rara entrevista concedida à BBC no último domingo (26), o cantor, ainda em plena atividade aos 82 anos e que acabou de encerrar mais uma turnê em Londres, levantou a voz em defesa dos direitos autorais, potencialmente colocados em risco pelo uso não regulamentado da IA, e contra o governo britânico.   

O Reino Unido está considerando uma revisão da lei que permitiria que desenvolvedores de IA utilizem o conteúdo de criadores na internet para ajudar a desenvolver seus modelos – a menos que os detentores dos direitos se expressem contra.   

Falando com Laura Kuenssberg em seu talk show dominical, geralmente dedicado à política, McCartney denunciou a iniciativa lançado pelo governo de Keir Starmer, a qual “seria garantida a utilização quase gratuita da inteligência artificial nas criações alheias, sem ter de pedir autorização, a menos que os autores se apresentem explicitamente contra a sua recusa”.   

“Você tem rapazes, moças, surgindo que escrevem uma música linda, e eles não são donos dela. Eles não têm nada a ver com ela. E qualquer um que quiser pode simplesmente roubá-la”, alertou.   

“A verdade é que o dinheiro está indo para algum lugar. Alguém está sendo pago, então por que não deveria ser o cara que se sentou e escreveu Yesterday?”, questionou.   

Segundo McCartney, este mecanismo ameaça, em particular, os “jovens autores”, que talvez “escrevam uma boa canção e, não tendo os direitos sobre ela, podem ser facilmente fraudados”.   

O astro do rock não diz ser contra a IA, tendo em vista que ele próprio usou a tecnologia para a gravação póstuma no final de 2023 de “Now and Then”, música inédita escrita por John Lennon em 1977 e lançada no mercado global com as vozes dos quatro Beatles, incluindo os falecidos Lennon e George Harrison, mas sim preocupado com a tendência à desregulamentação.   

“O dinheiro que vem através das plataformas de streaming deve ir para as pessoas que criam a música, não para os gigantes da tecnologia”, continuou.   

Na sequência, McCartney apelou para que “os autores e detentores de direitos exerçam controle sobre o que é criado e sobre a remuneração que deriva do uso de suas obras por meio de IA”.   

Depois, lançou um ataque a Starmer, que, segundo ele, está muito focado no slogan de querer fazer do Reino Unido um país “líder mundial” em termos de investigação e negócios em inteligência artificial.   

“Nós somos o povo, vocês são o governo! Vocês deveriam nos proteger. Esse é o seu trabalho. Se você está apresentando um projeto de lei, tenha certeza de que está protegendo os pensadores criativos, os artistas criativos, ou você não terá mais eles”, concluiu o autor de obras-primas da música mundial, como “Yesterday”, “Hey Jude” e “Let It Be”. (ANSA).