[posts-relacionados]”Paul Klee: Equilíbrio Instável” é a exposição mais completa sobre o pintor alemão nascido na Suíça Paul Klee (1879-1940) já realizada na América do Sul. Ela acontece nas sedes do Centro Cultural Banco do Brasil de três capitais brasileiras, a começar por São Paulo em 13 de fevereiro. Conta com 123 itens, entre pinturas, gravuras, desenhos e fantoches. Elas pertencem ao acervo do Zentrum Paul Klee de Berna, que foi fundado em 1947 e reúne 4 mil das 10 mil obras registradas do artista. O conjunto percorre a trajetória de sua obra, dos primeiros esboços à última têmpera.

OBSESSÕES Klee amava o teatro e os fantoches. Fez uma marionete que batizou de “Autorretrato”. A figura do anjo era uma ideia fixa, expressa no desenho “Anjo esquecido”, de 1939

Quando criança, Klee mostrou talento como desenhista, mas queria ser músico. Nasceu no cantão de Berna, filho de uma cantora suíça e um maestro alemão. Enquanto a avó lhe ensinou desenho, estudou violino. Aos 10 anos se deu conta de que jamais seria virtuose e que o auge da música chegara ao ápice com Mozart. A pintura lhe pareceu mais promissora para novas experimentações. Viajou à Itália em busca de modelos. Mudou-se para Munique onde se formou em pintura e desenho. Em 1920, lecionou na Bauhaus, escola de design e arquitetura de vanguarda recém-fundada em Weimar. Ali, aplicou teoria musical no design, como o conceito de ritmo. Em 1933, fugiu do nazismo e voltou a Berna, sem obter cidadania suíça. Morreu aos 60 anos, de esclerodermia, inflamação que paralisa os movimentos.

Entre os fundadores do modernismo, Klee é o menos conhecido. Isso ocorre porque sua obra circula pouco em museus fora da Europa e é difícil de identificar. “Embora Klee estivesse em rede com todos os artistas da era moderna clássica, não se envolveu com certos movimentos”, diz à ISTOÉ a historiadora de arte suíça Fabienne Eggelhöffer, curadora da exposição. “Ele não escreveu nem assinou nenhum manifesto. Evitou as ideologias. Nesse sentido, ele se parece com Picasso.”

Contra a tela

Como a de Pablo Picasso, a pintura de Klee atravessou estilos e antecipou movimentos, sem se ter fixado em nenhum deles. Ao contrário do colega espanhol, porém, Klee evitava a marca. O estilo de Picasso pode ser observado nas mudanças de fase e nas figuras refratadas. Em Klee, nada é evidente. “Eu sou meu estilo”, escreveu em 1902 no diário mantido ininterruptamente entre 1898 e 1940. Um “eu” inquieto e compulsivo que praticou ao mesmo tempo a figura e a abstração sem observar fases, e desprezou a tela para privilegiar suportes tidos como inferiores, como o cartão, o papel e a madeira. Mais que o óleo consagrador, usou pigmentos alternativos como aquarela, têmpera e, mais que tudo, o grafite. Para fugir às convenções, também adotou o traço infantil e elevou o grotesco ao status de alegoria. Fez caricaturas e marionetes, que moldava para o filho, Félix. “Klee amava o teatro e os anjos”, diz Eggelhöffer. Na mostra, estão 15 desenhos desse tipo e uma cópia de sua obra mais famosa, a aquarela “Angelus Novus” (1920), que retrata um anjo levado pelo vento. O filósofo Walter Benjamin se inspirou nela para escrever suas “Teses sobre o conceito de História” em 1940.

Mas a contribuição de Klee vai além de sugerir ideias a filósofos. Ao contrário, seu achado foi ter substituído os conceitos por formas e cores, como observou o crítico italiano Giulio Carlo Argan. Assim, pôs em xeque tanto a representação da natureza como a filosofia. No lugar delas, potencializou a visualidade. “A arte não reproduz o visível, ela torna visível”, escreveu. Por isso, o espectador precisa emprestar seu olhar para completá-la. Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, de 13/2 a 29/4; no Rio de Janeiro, de 15/5 a 12/8 e em Belo Horizonte, de 28/8 a 18/11.

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