08/02/2019 - 9:30
[posts-relacionados]”Paul Klee: Equilíbrio Instável” é a exposição mais completa sobre o pintor alemão nascido na Suíça Paul Klee (1879-1940) já realizada na América do Sul. Ela acontece nas sedes do Centro Cultural Banco do Brasil de três capitais brasileiras, a começar por São Paulo em 13 de fevereiro. Conta com 123 itens, entre pinturas, gravuras, desenhos e fantoches. Elas pertencem ao acervo do Zentrum Paul Klee de Berna, que foi fundado em 1947 e reúne 4 mil das 10 mil obras registradas do artista. O conjunto percorre a trajetória de sua obra, dos primeiros esboços à última têmpera.
Quando criança, Klee mostrou talento como desenhista, mas queria ser músico. Nasceu no cantão de Berna, filho de uma cantora suíça e um maestro alemão. Enquanto a avó lhe ensinou desenho, estudou violino. Aos 10 anos se deu conta de que jamais seria virtuose e que o auge da música chegara ao ápice com Mozart. A pintura lhe pareceu mais promissora para novas experimentações. Viajou à Itália em busca de modelos. Mudou-se para Munique onde se formou em pintura e desenho. Em 1920, lecionou na Bauhaus, escola de design e arquitetura de vanguarda recém-fundada em Weimar. Ali, aplicou teoria musical no design, como o conceito de ritmo. Em 1933, fugiu do nazismo e voltou a Berna, sem obter cidadania suíça. Morreu aos 60 anos, de esclerodermia, inflamação que paralisa os movimentos.
Entre os fundadores do modernismo, Klee é o menos conhecido. Isso ocorre porque sua obra circula pouco em museus fora da Europa e é difícil de identificar. “Embora Klee estivesse em rede com todos os artistas da era moderna clássica, não se envolveu com certos movimentos”, diz à ISTOÉ a historiadora de arte suíça Fabienne Eggelhöffer, curadora da exposição. “Ele não escreveu nem assinou nenhum manifesto. Evitou as ideologias. Nesse sentido, ele se parece com Picasso.”
Contra a tela
Como a de Pablo Picasso, a pintura de Klee atravessou estilos e antecipou movimentos, sem se ter fixado em nenhum deles. Ao contrário do colega espanhol, porém, Klee evitava a marca. O estilo de Picasso pode ser observado nas mudanças de fase e nas figuras refratadas. Em Klee, nada é evidente. “Eu sou meu estilo”, escreveu em 1902 no diário mantido ininterruptamente entre 1898 e 1940. Um “eu” inquieto e compulsivo que praticou ao mesmo tempo a figura e a abstração sem observar fases, e desprezou a tela para privilegiar suportes tidos como inferiores, como o cartão, o papel e a madeira. Mais que o óleo consagrador, usou pigmentos alternativos como aquarela, têmpera e, mais que tudo, o grafite. Para fugir às convenções, também adotou o traço infantil e elevou o grotesco ao status de alegoria. Fez caricaturas e marionetes, que moldava para o filho, Félix. “Klee amava o teatro e os anjos”, diz Eggelhöffer. Na mostra, estão 15 desenhos desse tipo e uma cópia de sua obra mais famosa, a aquarela “Angelus Novus” (1920), que retrata um anjo levado pelo vento. O filósofo Walter Benjamin se inspirou nela para escrever suas “Teses sobre o conceito de História” em 1940.
Mas a contribuição de Klee vai além de sugerir ideias a filósofos. Ao contrário, seu achado foi ter substituído os conceitos por formas e cores, como observou o crítico italiano Giulio Carlo Argan. Assim, pôs em xeque tanto a representação da natureza como a filosofia. No lugar delas, potencializou a visualidade. “A arte não reproduz o visível, ela torna visível”, escreveu. Por isso, o espectador precisa emprestar seu olhar para completá-la. Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, de 13/2 a 29/4; no Rio de Janeiro, de 15/5 a 12/8 e em Belo Horizonte, de 28/8 a 18/11.