O patriarca de Constantinopla reconheceu nesta quinta-feira (11) uma Igreja Ortodoxa independente na Ucrânia, uma decisão que desperta a indignação da Rússia, mas foi saudada pelo presidente ucraniano como o fim da “ilusão imperial” de Moscou.

Em um comunicado publicado no final de um sínodo de dois dias em Istambul, o patriarca anunciou que ratificou “a decisão já tomada de acordo com a qual o Patriarcado Ecumênico procede a conceder a ‘autocefalia’ à Igreja ucraniana”.

O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, felicitou-se por esta decisão, assegurando que era o fim da “ilusão imperial e das fantasias chauvinistas” de Moscou.

Para a Igreja russa em Moscou, trata-se de uma “catástrofe” e o anúncio de um “cisma”.

O sínodo também decidiu “restaurar em sua função hierárquica” o patriarca Filarete Denisenko, depois de ter examinado o recurso que havia apresentado contra sua excomunhão por parte de Moscou.

Após a independência da Ucrânia em 1991 e a queda da URSS, Filarete, ex-chefe do Patriarcado de Moscou, criou uma Igreja Ortodoxa Ucraniana da qual se proclamou patriarca, o que lhe rendeu a excomunhão de Moscou.

O sínodo começou na quarta-feira sob a presidência do patriarca Bartolomeu de Constantinopla, que foi quem tomou a decisão, em função de um pedido oficial do Patriarcado de Kiev, de que a Igreja ucraniana fosse reconhecida de pleno direito no mundo ortodoxo.

Moscou chegou a romper em parte as relações com Constantinopla, denunciando um “golpe pelas costas” por parte de um patriarcado com o qual as relações já eram difíceis.

O patriarca russo Kiril, considerado um aliado do presidente Vladimir Putin, opõe-se totalmente à vontade de independência do Patriarcado de Kiev, e considera isso uma “catástrofe” e um “cisma” no mundo da ortodoxia.

Embora o Patriarcado de Constantinopla seja o mais antigo, o de Moscou possui o maior número de fiéis e paróquias.

A perda de sua influência na Ucrânia será um grande revés para seu status no mundo da Igreja Ortodoxa.

Na Ucrânia, a Igreja subordinada ao Patriarcado de Moscou é a comunidade religiosa mais importante, de acordo com o número de paróquias, mas cada vez mais ucranianos estão se unindo à Igreja do Patriarcado de Kiev.

As relações frequentemente tensas entre essas duas igrejas foram exacerbadas pela crise entre a Rússia e a Ucrânia, marcada pela anexação da Crimeia por Moscou em março de 2014, seguida pelo conflito separatista pró-russo no leste da Ucrânia.