Vale salientar que escrevo esse artigo antes do jogo contra a Sérvia. Ignoro absolutamente os meandros da nossa classificação para as oitavas de final ou mesmo se já fomos eliminados em um retumbante fracasso. Está tudo certo. Na prática, não faz diferença. Ao menos não para tratar desse azedume que permeia a cobertura envolvendo a seleção, capaz de pautar humores e até perseguições.

Muitos cedem à tentação de recorrer ao célebre “complexo de vira-lata” para justificar tamanho descompasso com um momento que deveria ser de respiro, mas, apesar do compreensível trauma imposto pelos alemães há quatro anos, não existem traços de deslumbramento pelos conjuntos rivais como em 58.

O que há de ser, então? Quem sabe Neymar não poderia experimentar outra atitude, talvez parecida com a do próprio Coutinho, e então nutriríamos por ele a mesma dose de afeto? E quanto a Thiago Silva? Como seria bom se o defensor preferido de Tite adotasse uma postura menos passiva, condizente com a de um autêntico zagueiro da seleção brasileira, não é?

Pode ser. Sem dúvida são argumentos que encontram respaldo em uma opinião pública cada vez mais vulnerável a manchetes e discursos formulados para ir ao encontro do senso comum. Contudo, também é verdade que nos têm faltado paciência e sabedoria.

Paciência, antes de mais nada, para entender que Neymar, assim como todos nós, é filho da sua época. Há um inegável estrelismo, incluindo hábitos incompatíveis com os de um atleta consolidado, porém não faz sentido compará-lo a jogadores de gerações passadas, cujos costumes, então, certamente não colhiam aprovações unânimes. Paciência, enfim, para aceitar que, quando se fala em liderança, de fato, Thiago Silva jamais será Dunga ou Belini. É uma questão de perfil. Perfil esse, diga-se, que falta ao time nacional como um todo, mas que não atrapalha a sua soberba categoria.

O curioso é que justo Neymar e Thiago, dupla que hoje cristaliza essa tola antipatia, sequer pisaram no gramado do Mineirão quando o Brasil sofreu o maior vexame de sua história.

E, dizia eu, também nos falta sabedoria. Sabedoria para entender que em poucas semanas esse divertido parênteses chamado Copa do Mundo terá chegado ao fim, e então teremos todo tempo do mundo para eleições, debates virulentos, falta de emprego e de segurança.Sabedoria para entender que se formos campeões essa realidade não mudará, mas pode até tornar o ambiente melhor.

Thiago Silva jamais será Dunga ou Belini. É uma questão de perfil. Perfil esse, diga-se, que falta ao time nacional como um todo, mas que não atrapalha a sua soberba categoria