SÃO PAULO, 21 MAI (ANSA) – Patinetes, bicicletas elétricas, veículos compartilhados, movidos à energia solar ou à bateria. O que parecia, há algumas décadas, cenas de filmes futurísticos já é realidade em grandes metrópoles pelo mundo. No Brasil, as novidades podem ser encontradas em algumas capitais, como São Paulo e Rio de Janeiro, e são consideradas uma mudança “irreversível” no mercado, que caminha em direção a um modelo de mobilidade sustentável. “A meu ver, é uma tendência irreversível. Inclusive porque notamos o envolvimento de grandes empresas que geralmente dão o tom do lobby no mercado desenvolvendo seu próprios programas de compartilhamento de veículos”, disse à ANSA Ana Carla Fonseca, diretora da Garimpo Soluções e especialista em cidades criativas e economia criativa. Diante dessa realidade, a sociedade, as autoridades e o mercado enfrentam um desafio para criar regulamentações para esses novos – ou repaginados – meios de transporte.   

“A grande discussão no momento é o espaço físico. Onde esses veículos são usados, quais acidentes causam, qual o perigo dessas novas modalidades. Elas precisam ter um espaço dedicado somente para elas. A calçada não é o mais adequado. Nas cidades do futuro, a maior disputa será pela área do meio-fio”, afirmou o diretor do programa de Cidades do WRI Brasil, Luis Antonio Lindau.   

Um dos casos mais emblemáticos é o dos patinetes elétricos. Com a disseminação de aplicativos e de empresas de aluguel de patinetes, cidades do Brasil e do mundo têm tentado estabelecer códigos de trânsito para o meio de transporte, proibindo seu uso em calçadas e avenidas de alta velocidade, além de obrigar o usuário a vestir equipamentos de segurança, como capacetes. Para Lindau, é provável que, em uma década, as pessoas já estevam se locomovendo pelas cidades de uma maneira bem diferente da que conhecemos hoje. “Os patinetes elétricos são uma indústria que cresce muito forte no momento, assim como as bicicletas assistidas compartilhadas.   

A bicicleta elétrica é aquela que o sujeito não precisa pedalar.   

Já a assistida é uma que ajuda o usuário. Tem bateria, mas só funciona se o sujeito pedalar”, explicou o especialista.   

Em relação aos carros e veículos de grande porte, a discussão no mercado envolve, além das regulamentações, a questão energética.   

“Eu voltei da Holanda há algumas semanas, e os taxis que faziam o serviço dos aeroportos eram todos elétricos. Para o Brasil, o que precisamos ter em mente dessa migração é a consciência da matriz energética que sustenta essa transição e suas consequências para o sistema”, afirmou o presidente da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (Abesco), Alexandre Sedlacek Moana. “Essa transição precisa ser bem feita. Senão, fica só um apelo verde, de sustentabilidade, que, na prática, não é real. A inteligência precisa acompanhar a migração da tecnologia”, alegou Moana. “Por exemplo, se você precisa queimar combustível fóssil em uma central para fornecer energia para esses novos carros, você está poluindo ainda. Apenas descentralizou o processo”. O tema está sendo discutido em São Paulo, de hoje (21) a quinta-feira (23), na Ecoenergy (Feira e Congresso Internacional de Tecnologias Limpas e Renováveis para Geração de Energia).   

Organizada pela Cipa Fiera Milano, a feira ocorre no espaço São Paulo Expo e, além de painéis e congressos, apresenta as últimas novidades para o uso de energias renováveis, inclusive em mobilidade. Segundo Moana, que presidirá um seminário na Ecoenergy sobre “Smart Grids”, um modelo viável para o mercado brasileiro seria o carro híbrido. “O Brasil é um caso à parte, porque a gente tem o álcool desde os anos 80. Se o carro for metade álcool e metade elétrico, seria um dos modelos mais avançados”, alegou. No entanto, outras companhias e investidores, como Elon Musk, da Tesla, estão focados em desenvolver um carro elétrico competitivo que possa substituir os veículos convencionais. “Vai demorar um pouco para essas substituição porque entra no mundo de montadoras que já estão estabelecidas em mercados consolidados e que não têm tanto interesse em transição de uma matriz”, afirmou o engenheiro mecânico Rodrigo Contin, CEO da HiTech Eletric, empresa brasileira de carros e caminhões elétricos e que já está desenvolvendo veículos fotovoltaicos.   

A HiTech Eletric opera, principalmente, com frotas de empresas, mas já vê um crescente interesse do consumidor final em veículos movidos a energias alternativas. “Existe uma demanda reprimida de mobilidade urbana. Quando você mostra os benefícios, o custo da manutenção, custo de km rodado, matriz limpa, o consumidor pega confiança e aposta na mudança, optando por esses novos veículos”, disse Contin. (ANSA)