A vontade da futura presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, de integrar a migração e a política de refúgio sob uma vice-presidência intitulada “Proteção de nosso estilo de vida europeu” gerou alvoroço em Bruxelas nesta terça-feira.

“Ao utilizar a retórica da extrema direita (‘os imigrantes ameaçam o estilo de vida europeu’) e a vincular a imigração com a segurança, isso envia uma mensagem preocupante”, segundo Stefan Simanowitz, da ONG Anistia Internacional (AI).

O grego Margaritis Schinas (Partido Popular Europeu, PPE, direita), cujo país ocupa a linha de frente da chegada de migrantes em solo europeu, ocupará a partir 1 de novembro de uma vice-presidência encarregada de coordenar as questões sobre migração.

O título de seu novo cargo é vice-presidente para a “Proteção de nosso estilo de vida europeu”, extraído do programa político que a futura presidente apresentou à Eurocâmara, assegurou Von der Leyen.

“Nosso estilo de vida europeu é se agarrar a nossos valores. A beleza da dignidade de cada ser humano é um dos valores mais apreciados”, explicou em coletiva de imprensa a conservadora alemã.

Em seu programa são desenvolvidas suas prioridades: “proteger nosso estilo de vida europeu” em várias categorias, entre elas o Estado de direito ou a segurança interna, acrescentando ponto sobre “fronteiras sólidas e um novo enfoque em matéria de migração”.

A denominação gerou entretanto indignação, especialmente entre os partidos de centro-esquerda.

“Dá medo ver a proposta de uma pasta sobre ‘a proteção do modo de vida europeu’ que inclui a migração a proteção de fronteiras”, indicou a copresidente do grupo ecologista na Eurocâmara, Ska Keller.

O eurodeputado social-democrata britânico Claude Moraes assegurou que ressaltaria este “verdadeiro problema” em seu grupo, estimando no Twitter que uma pasta com um nome assim não pode existir.

“A Eurocâmara deve dar seu acordo” à nova Comissão, lembrou. Os diferentes comissários devem se submeter a uma audição diante de suas respectivas comissões na Eurocâmara, antes de um voto em sessão plenária sobre o conjunto do executivo comunitário.

Um porta-voz de Von der Leyen assegurou à AFP que “não é nada novo”, já que o título procede das diretrizes políticas de Von der Leyen, e precisou que se trate de um “enfoque político amplo” que inclui democracia, Schengen ou cooperação para o desenvolvimento, entre outros.

Von der Leyen informou que Schinas trabalhará “sobre toda a cadeia”, do país de origem dos migrantes até o tráfico de seres humanos, passando por fronteiras “que funcionem” e o direito de refúgio, mas também sobre uma migração legal de trabalhadores qualificados.