Passar muito tempo no trânsito estimula consumo de fast-food, diz estudo

Ficar preso no trânsito tem um impacto direto na qualidade da alimentação e leva ao aumento do consumo de fast-food, mostra uma pesquisa da Universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos, publicada em março no Journal of Urban Economics. 

Segundo os autores, a falta de tempo é um dos fatores que mais se correlaciona com o consumo desse tipo de comida. “A relação entre tempo e alimentação é bem documentada”, concorda a nutricionista Serena del Favero, do Hospital Israelita Albert Einstein. “Pessoas com menos tempo para preparar refeições tendem a consumir mais alimentos prontos, que frequentemente são menos saudáveis.” 

Para avaliar esse efeito, os pesquisadores cruzaram informações de trânsito nas rodovias que atravessam a cidade de Los Angeles, nos Estados Unidos, entre os anos de 2017 e 2019, com as visitas a redes de fast-food no mesmo período. Esses dados foram fornecidos pelo SafeGraph, que faz análises de geolocalização.  

Os resultados mostraram que, nos dias de maior congestionamento, as pessoas tinham maior probabilidade de frequentar esse tipo de estabelecimento em vez de mercearias ou supermercados. Para cada pequeno aumento na lentidão no tráfego — o equivalente a 31 segundos de atraso para percorrer uma milha (1,6 quilômetro) —, houve um crescimento de 1% nas visitas às cadeias de comida rápida.  

Segundo os autores, pode parecer pouco, mas isso representa 1,2 milhão de idas a mais a esses locais em Los Angeles a cada ano. Os efeitos foram mais acentuados na hora do rush do fim de tarde. 

Para Serena del Favero, a ideia de que congestionamentos aumentam o consumo de fast-food é coerente com o que se sabe sobre conveniência alimentar e tomada de decisões sob estresse. “O estudo faz bastante sentido dentro do contexto da ciência comportamental e da nutrição, pois reforça algo que já é observado na prática clínica: restrições de tempo influenciam negativamente as escolhas alimentares.” 

Além disso, diz a especialista, os resultados trazem uma nova perspectiva para entender de que forma fatores ambientais, como o trânsito, podem impactar a nutrição. “Isso pode ser útil tanto para a prática clínica quanto para a formulação de políticas públicas.” 

Vale a ressalva, porém, de que o estudo foi feito em uma cidade estadunidense com alto nível de trânsito e uma cultura alimentar específica. “Em cidades menores ou em países onde o fast-food não é tão acessível, os resultados podem ser diferentes.” 

Além disso, não há dados sobre o que exatamente foi consumido, já que fast-food pode variar de opções altamente calóricas a alternativas mais equilibradas. “O estudo presume que o aumento nas visitas a fast-foods significa uma substituição direta por refeições caseiras, mas outros aspectos também podem influenciar essa decisão.” 

De qualquer forma, os resultados reforçam a importância de considerar fatores externos ao elaborar estratégias nutricionais. Soluções como planejamento alimentar, refeições congeladas saudáveis e sugestões de lanches rápidos podem ajudar pacientes com rotinas agitadas, orienta a nutricionista.  

Fonte: Agência Einstein