14/09/2017 - 17:44
Cuba ainda avalia os danos provocados pelo furacão Irma, mas ONGs e agências da ONU antecipam meses delicados para a ilha, que precisará de ajuda internacional para sair desta situação.
– Qual é o impacto de Irma em Cuba? –
Sua passagem foi excepcional por sua intensidade e magnitude, com 13 das 15 províncias do país afetadas, segundo o Conselho Nacional de Defesa. Irma foi o mais potente dos furacões que atingiram diretamente Cuba desde 1932.
“As províncias centrais de Camagüey, Ciego de Ávila e Villa Clara foram as mais afetadas”, indicou Jérôme Faure, representante da Oxfam, ONG que ajuda Cuba em matéria de prevenção de catástrofes naturais.
Embora os danos de Irma ainda sejam avaliados, autoridades cubanas e observadores estrangeiros apontam a agricultura, o turismo e a habitação como os três setores mais golpeados.
“Muitas infraestruturas agrícolas, campos e armazéns foram afetados”, comenta a diretora do Programa Mundial de Alimentos (PMA) em Cuba, Laura Melo, que indica a banana e a cana de açúcar como os cultivos mais castigados.
“Em algumas províncias do oriente do país como Ciego de Ávila, afetadas pela seca, o furacão trouxe muita água, o que é uma notícia muita boa. Mas houve muita destruição, com consequências previsíveis na produção, na oferta aos mercados e na situação das famílias que vivem da agricultura”, acrescenta Melo.
Em matéria de turismo, “o boom provavelmente sofrerá um impacto”, devido ao número de hotéis e de casas de câmbio que foram danificadas, explica Faure, preocupado com o setor que vinha registrando crescimento de dois dígitos desde 2015.
O ministro do Turismo, Manuel Marrero, garante que os hotéis das pequenas ilhas paradisíacas das costa norte, fortemente atingidas por Irma, estarão prontos em meados de dezembro, quando começa a alta temporada. Mas muitos são céticos, sobretudo pelas imagens de devastação que circulam nas redes sociais.
– Cuba se preparou à altura de sua reputação?-
“Cuba tem um dos sistemas de prevenção e resposta contra furacões mais eficazes na região”, explica Faure e afirma que “os danos poderiam ter sido maiores” se não tivessem adotado medidas como as de retirar antenas wifi e telefônicas, proteger colheitas, e armazenar água e comida nas zonas de risco.
“Cuba foi mais atingida do que se esperava inicialmente, mas os mecanismos de prevenção funcionam muito bem”, disse Melo. “Houve 10 mortos, mas em relação ao impacto do furacão, isso é mínimo. A capacidade de mobilização é extraordinária”, aponta.
O diretor em Cuba da ONG Care, Richard Paterson, elogiou “a ênfase na proteção da vida humana, que (o governo) dirige às pessoas mais vulneráveis” com o objetivo de que sejam levados a abrigos estatais ou a casas de familiares e amigos.
“A temporada de furacões não terminou e existe um grande risco de que esta situação se repita”, adverte Melo, ressaltando que “é importante responder à urgência, mas também pensar em se preparar para o caso de outro furacão”.
– Como se recuperar de catástrofe semelhante?-
“O mais importante agora é garantir o abastecimento de alimentos, água e eletricidade”, disse Paterson, que estima que o retorno à normalidade poderá levar um mês em algumas áreas.
Mas Irma também “afetou setores importantes para a economia, e isso pesar ainda mais no custo da recuperação que deve ser alto”, destaca Melo pensando mais a longo prazo.
“Cuba não tem o mesmo nível de desenvolvimento que as ilhas apoiadas pela França, por exemplo, e por isso se espera que a solidariedade expressa se concretize de forma maciça, pois a ilha já atravessa um momento difícil do ponto de vista econômico, com um crescimento de apenas 1,1% no primeiro semestre do ano”, aponta Faure.
“Empresas públicas e privadas foram impactadas, e se requer um investimento importante. Além disso, Cuba é frágil devido à situação enfrentada por seu principal aliado, a Venezuela”, conclui.
Paterson acredita que “passará pelo menos um ano até que Cuba se recupere”.