Por Mark Gleeson

AL RAYYAN, Catar (Reuters) – A primeira experiência da França com uma ex-colônia em uma partida da Copa do Mundo terminou amargamente para os franceses quando, na condição de atuais campeões, eles foram derrotados por 1 x 0 na estreia da Copa do Mundo de 2002, resultado que prenunciou a eliminação precoce da equipe na primeira fase.

As expectativas para o encontro de quarta-feira com a Tunísia na última rodada da fase de grupos do Mundial do Catar são muito diferentes, com a poderosa seleção francesa já garantida nas oitavas de final e com expectativas de atropelar a seleção africana, mas com certeza o passado colonial será um ingrediente a mais no duelo.

Dez dos convocados da Tunísia para esta Copa do Mundo são franceses, alguns deles defenderam a seleção da França nas categorias de base antes de optarem por representar a Tunísia em nível profissional.

Outros dois moram na França desde pequenos e também têm dupla nacionalidade, acrescentando uma familiaridade ao confronto.

O experiente atacante tunisiano Wahbi Khazri nasceu na ilha francesa da Córsega e atua no Montpellier da primeira divisão francesa.

“Eu queria estar no grupo da França antes do sorteio. É um sonho que vira realidade”, disse Khazri aos repórteres na terça-feira.

“Eu tento representar a Tunísia na França todos os fins de semana, atuando bem e também gosto de representar a Córsega, porque nasci lá. Carrego muitas bandeiras sobre meus ombros, é bonito. Eu sou 100% tunisiano, 100% francês e 100% córsego. Não tenho vergonha disso”, acrescentou ele.

A atitude descontraída de Khazri em relação ao jogo no Estádio Cidade da Educação não é a norma, no entanto, já que os confrontos passados têm sido um fórum para as comunidades de imigrantes marginalizadas da França para desabafar suas frustrações

Há cerca de 700.000 tunisianos vivendo na França e o amistoso de 2008 da Tunísia contra a França em Paris foi assistido por muitos deles que vaiaram quando o hino francês tocou e zombaram de cada toque de bola pelo substituto francês Hatem Ben Arfa, que é de ascendência tunisiana.

Isso levou a uma reação de raiva do então presidente francês, Nicolas Sarkozy, que convocou a Federação Francesa de Futebol para uma reunião e exigiu que não fossem mais realizadas partidas em solo francês contra seleções de ex-colônias do norte da África.

O governo também insistiu que futuramente os jogos deveriam ser interrompidos se o hino nacional fosse vaiado.

“É ofensivo para a França, é ofensivo para os jogadores da equipe francesa, não deve ser tolerado”, disse o então primeiro-ministro, François Fillon, na ocasião.

A equipe da Tunísia nesta Copa do Mundo se beneficiou do apoio apaixonado dos compatriotas que vivem no Catar e espera-se que eles submetam a França a uma recepção hostil na partida, que os norte-africanos precisam vencer para ter qualquer chance de evitar a eliminação na primeira fase.

tagreuters.com2022binary_LYNXMPEIAS0FC-BASEIMAGE