Sou judeu, mas não professo a religião com a devida assiduidade. Quem me conhece pessoalmente, ou me lê com frequência, sabe que minha profunda e forte ligação com o judaísmo se dá mais pelos elos afetivos e emocionais por amigos e familiares, e a memória e o respeito pelos meus antepassados (recentes e milenares), do que pela prática religiosa.

Ao mesmo tempo, sou casado com uma cristã, e minha mais do que querida sogra é praticamente coroinha de igreja. Assim, além do fato de ter estudado a vida inteira em escolas franciscanas, tenho grande ligação com o cristianismo. Se eu fosse devoto, ou seja, acreditasse e professasse alguma religião, eu seria do tipo bi-polar, ou total-flex, hehe.

O fato é que, a despeito de respeitar e admirar algumas religiões e religiosos, não encontro significado nas ‘leis’ escritas por homens, alegadamente em nome do Senhor (e cada credo possui o seu), muito menos na fé incondicional que leva muita gente a dar dinheiro, bens materiais e até mesmo a própria vida para os ‘homens de Deus’.

Bem, feita esta longa digressão – um péssimo hábito meu, aliás -, posso dizer que, diante minha peculiaridade religiosa, usufruo o melhor de dois mundos. Festas religiosas não faltam na cultura judaico-cristã. Como não faltam, nessas ocasiões, família e amigos ao redor de mesas alegres, barulhentas e fartas. Muito fartas! Haja calorias e quilos a mais.

Hoje é Sexta-feira da Paixão, que precede o Domingo de Páscoa, uma das festividades mais importantes para o cristianismo e que representa a ressurreição de Cristo. A data é comemorada, anualmente, no primeiro domingo após a primeira lua cheia, que ocorre no início da primavera (no Hemisfério Norte) e do outono (no Hemisfério Sul).

E é também o primeiro dia de Pessach (passagem ou passar sobre), igualmente uma das datas mais importantes para os judeus em todo o mundo, pois celebra a libertação da escravidão no Egito, cerca de 3.5 mil anos atrás, e também acontece todos os anos no dia 14 de nissan, do calendário religioso judaico – diferente do gregoriano utilizado no Brasil.

Como conheço as duas festas e suas tradições, posso dizer que ambas são maravilhosas, cheias de significado e muito, muito, mas muito engordativas. Eis aí a única semelhança! Muita gente acredita que Pessach é Páscoa em hebraico, ou mesmo a Páscoa dos judeus, mas não. Como explicado acima, são festas religiosas completamente distintas.

Feliz Páscoa e Chag Pessach Sameach a todos!