A Agência Espacial dos Estados Unidos (NASA) lançou uma novidade: está em busca de candidatos “sãos e motivados” para integrar a equipe da próxima missão simulada rumo a Marte. Os candidatos devem possuir nacionalidade norte-americana ou residir no país, além de terem entre 30 e 35 anos de idade. A busca da agência por indivíduos qualificados para participar da missão simulada de um ano em Marte pode ser comparada a uma seleção rigorosa de atletas para representar uma equipe olímpica em uma competição de alto nível.

Assim como os atletas devem passar por treinamentos intensivos para se preparar para os Jogos Olímpicos, os participantes da missão Chapea serão selecionados com base em critérios específicos, como:
habilidades técnicas,
saúde física e mental,
e motivação para enfrentar os desafios únicos de uma expedição ao planeta vermelho.

“Marte tem condições muito extremas e adversas aos seres humanos. Se uma pessoa fosse hipoteticamente colocada na superfície de Marte, por exemplo, sem qualquer tipo de proteção ou suporte, sobreviveria por cerca de um minuto apenas”, explica Álvaro Crósta, professor de Geociências da Unicamp.

A missão simulada está programada para a primavera de 2025 e tem como principal objetivo preparar a tão aguardada primeira expedição humana ao planeta vermelho. Essa será a segunda fase do programa “Analogia de Exploração da Saúde e Desempenho da Tripulação”, na qual os quatro selecionados viverão por um ano no renomado Centro Espacial Johnson da Nasa, localizado em Houston, Texas (EUA).

A primeira experiência para preparar esses voluntários não seguiu conforme o planejado. Incidentes como intercorrências médicas e conflitos interpessoais são alguns dos problemas enfrentados que resultaram no fracasso da primeira tentativa. “Nós tivemos uma simulação nesses moldes que não foi tão produtiva. Foi abortada depois de quatro dias, porque um membro acabou tomando, possivelmente, um choque lá. E aí saiu de ambulância para o hospital, o que culminou com o cancelamento da operação”, explica Marcos Calil, doutor em Astronomia.

Nathan Jones, Ross Brockwell, Kelly Haston e Anca Selariu: convivência prejudicada por problemas médicos (Crédito: NASA/Josh Valcarcel)

A exigência de convivência harmoniosa, adaptação a condições adversas e manutenção da saúde física e mental durante a viagem de aproximadamente 21 meses para Marte demonstra a magnitude dos desafios a serem superados.

Além disso, a logística envolvida, como a sincronização das janelas de lançamento e as necessidades alimentares específicas, ressaltam a complexidade dessa empreitada.

“Existem pessoas que incrivelmente se arriscam a isso. São verdadeiros ratos de laboratório”, declara o doutor em Astronomia, argumentando que hoje não se faz necessário o uso de humanos como cobaias, sendo que existem outras missões utilizando robôs, de forma bem-sucedidas.

Os resultados do experimento deverão beneficiar bastante não só o planejamento de futuras missões a Marte, mas também todas as missões espaciais envolvendo a participação de seres humanos.

(Divulgação)

“Marte tem condições adversas para os humanos.”
Álvaro Crosta, geocientista

Assim como os atletas olímpicos representam seus países e buscam alcançar o melhor desempenho possível nas competições, os voluntários da missão simulada em Marte representam a NASA e contribuem para o avanço da exploração espacial e o desenvolvimento de tecnologias para futuras missões humanas ao Planeta Vermelho.

Os participantes da missão Chapea têm o objetivo de superar limites, alcançar novas conquistas e inspirar a humanidade com suas realizações. “Os pré-candidatos ao experimento têm, por exemplo, que começar respondendo um extenso e detalhado questionário sobre questões de saúde, histórico de doenças ou distúrbios de todos os tipos, alergias, tolerância a uma série de restrições e motivações, entre muitas outras. Portanto, a exigência de pessoas ‘sãs e motivadas’ é, sem dúvida, imperativa para o sucesso do experimento”, resume Crosta.

Laboratório da NASA: área de simulação em Houston, Texas, prevê longos períodos de isolamento (Crédito:Divulgação )
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(Bill Stafford/NASA)
Dormitório (acima) e terreno que simula Marte: nova equipe treinará aqui para enfrentar viagem de 21 meses até o destino final (Crédito:NASA/Bill Stafford)