As duas siglas antissistema da Itália se encontram a um passo de chegar ao poder, enquanto aparam as arestas, nesta quinta-feira (17), sobre vários pontos-chave de um programa de governo que promete abrir uma etapa de tensão com a União Europeia (UE).

O líder da legenda antissistema Movimento 5 Estrelas (M5E), Luigi Di Maio, e o da ultradireitista Liga, Matteo Salvini, voltaram a se reunir hoje por mais de três horas para revisar, retocar e suavizar os pontos mais delicados do contrato de governo e debater sobre o perfil do candidato ao cargo de primeiro-ministro.

Dois meses e meio depois das eleições legislativas de 4 de março, nas quais nenhum partido, ou coalizão, obtiveram a maioria necessária para governar, as duas forças mais votadas anunciaram que completaram a redação de um “contrato para o governo da mudança”, com 22 pontos em 40 páginas.

Seis pontos, que não foram especificados, não contavam com o consenso de ambas as partes, segundo a imprensa local.

O vazamento do primeiro rascunho na segunda-feira, com elementos que incluíam um mecanismo para sair do euro, gerou alarme em toda Europa. Ontem, a eventual saída do euro foi desmentida reiteradamente por ambos os lados.

“Não se pôs a moeda única em discussão”, disseram os envolvidos, acrescentando que esse ponto havia sido eliminado.

Apesar disso, os mercados reagiram negativamente, e a Bolsa de Milão registrou queda nesta quinta.

– Italexit –

Embora a possibilidade de um “Italexit” tenha sido descartada e não apareça nas últimas versões do programa divulgado pela imprensa local nesta quinta, restam muitas perguntas sobre a chegada ao poder de duas forças antissistema muito diferentes.

A ideia de cancelar os 250 bilhões de euros da dívida pública italiana em poder do Banco Central Europeu (BCE) também desapareceu rapidamente do acordo.

Fixar um “imposto sobre a renda” de 15% a 20% – promessa eleitoral da Liga -, a proposta de um salário fixo de cidadania, defendida pelo M5E, além da reforma da polêmica lei de aposentadorias, permanecem por enquanto no pacto de governo.

O acordo deveria introduzir “a cota 100”, ou seja, a possibilidade de se aposentar quando a soma da idade e dos anos de contribuição alcançarem os 100 anos. Por exemplo: 64 anos e 36 anos de contribuição.

Todas estas são medidas que poderiam custar milhões de euros para serem implantadas.

Em uma incisiva mensagem, Alessandro Di Battista – que, entre os fundadores do M5E, é o líder da ala mais à esquerda – pediu às duas forças que sejam “corajosas e encarem os “mercados fantasmas”.

“Escutem o que se diz nos bares, nos pequenos escritórios, nas universidades e nas salas de espera dos médicos de família. Não aos conselhos diretores dos bancos”, escreveu.

Di Maio e Salvini anunciaram que o acordo será submetido em poucos dias à votação da militância de ambos os partidos, na Internet, no caso do M5E, e nas praças públicas, no da Liga.

Sobre o nome do futuro chefe de governo, os dois líderes continuam sendo muito discretos. Di Maio deseja “uma figura política aceita por ambas as forças e com um mandato bem definido”.

Para a composição do governo, Liga e M5E deverão respeitar o resultado eleitoral: sozinhos, os indignados obtiveram inequívocos 32%, e a Liga, 17% individualmente, ou 37%, no caso da coalizão de direita.