Partido pró-europeu vence legislativas na Moldávia

O partido pró-europeu PAS, da presidente Maia Sandu, venceu as eleições legislativas na Moldávia, um pleito marcado por acusações de interferência russa neste país que faz fronteira com a Ucrânia.

Segundo as projeções, o Partido Ação e Solidariedade (PAS) poderia manter sua maioria absoluta no Parlamento com 55 cadeiras das 101, o que representa uma queda na comparação com as 63 da atual legislatura.

O pequeno país – que aspira integrar a União Europeia, tem fronteira com a Ucrânia e possui uma região separatista pró-Rússia – está dividida há muitos anos entre se aproximar do bloco europeu ou manter as relações da era soviética, voltadas para Moscou.

“A votação de ontem é um mandato forte para o processo de adesão da Moldávia à UE”, afirmou a presidente Maia Sandu nesta segunda-feira.

As eleições de domingo eram consideradas cruciais para que a ex-república soviética consolide a tendência europeísta, intensificada após a invasão russa da Ucrânia em 2022.

O PAS, no poder desde 2021, recebeu 50,20% dos votos, superando a legenda pró-russa Bloco Patriótico, que obteve 24,17% dos votos, segundo os resultados publicados no site da Comissão Eleitoral após a apuração de 100% das urnas.

“Não foi apenas o PAS que venceu, o povo venceu”, declarou Igor Grosu, líder do PAS, em uma entrevista coletiva. Ele citou uma “luta extraordinariamente difícil” contra a interferência russa, que utilizou métodos “sujos”.

– “Caminho correto” –

“É muito agradável acordar em uma Moldávia que escolheu o caminho correto: paz, desenvolvimento e estabilidade”, declarou à AFP em Chisinau Nadir Grinco, 25 anos.

“Eu me sinto mais segura (…) Não terei que me mudar para o exterior como havia planejado, se os resultados fossem menos satisfatórios”, acrescentou.

Líderes europeus – incluindo o presidente da vizinha Ucrânia, Volodimir Zelensky – celebraram o resultado como uma vitória para o continente.

“A Rússia não conseguiu desestabilizar a Moldávia, mesmo depois de gastar enormes, enormes recursos para miná-la e corromper quem pudesse”, afirmou o presidente ucraniano.

Moscou, por sua vez, negou, nesta segunda-feira, qualquer tentativa de interferência nas eleições e denunciou acusações “cínicas”, segundo a porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova.

O presidente do Conselho Europeu, Antonio Costa, considerou que a Moldávia escolheu um “futuro europeu”, enquanto a França parabenizou os eleitores por sua escolha “soberana”.

Contudo, o analista Andrei Curararu, do centro de estudos WatchDog.md, disse que “estatisticamente falando, o PAS garantiu uma frágil maioria”.

Ele advertiu que o “perigo não passou”. O Kremlin “poderia recorrer a protestos, subornar legisladores do PAS e utilizar outras táticas para impedir a formação de um governo pró-europeu estável”, destacou.

A votação foi marcada por temores de compra de votos e distúrbios, além de “uma campanha de desinformação sem precedentes” com origem na Rússia, segundo a União Europeia.

A Rússia negou estas acusações.

– Denúncias –

Um dos líderes do Bloco Patriótico, Igor Dodon, acusou o PAS de manipular os resultados e anunciou que apresentou dezenas de denúncias à Comissão Eleitoral.

De acordo com a decisão que for tomada, “adotaremos outras medidas jurídicas”, advertiu.

Os eleitores da Moldávia, que tem quase 2,4 milhões de habitantes, expressaram sua frustração com as dificuldades econômicas em um dos países mais pobres da Europa.

Também apontaram o ceticismo em relação à campanha do governo para ingressar na UE, iniciada após a invasão russa da Ucrânia em 2022.

Liuba Peribicovski, uma pensionista de 75 anos, considerou o resultado “negativo” para ela, expressando sua decepção com a União Europeia e pedindo evidências de uma “interferência” russa.

Na Moldávia, alguns cidadãos expressam saudade da época soviética.

“Quero salários e pensões mais altos (…) Quero que as coisas continuem como eram no período russo”, declarou à AFP Vasile, um chaveiro e soldador de 51 anos que revelou apenas o primeiro nome.

Quase 20 partidos políticos e candidatos independentes disputaram as 101 cadeiras do Parlamento.

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