O partido de Fernando Villavicencio, morto a tiros no Equador, anunciou, neste domingo (13), o jornalista Christian Zurita como seu novo candidato à Presidência nas eleições de 20 de agosto.

No sábado, o partido Construye (Constrói) havia nomeado candidata e ambientalista Andrea González, que era vice na chapa de Villaciencio, mas mudou de ideia temendo que as normas eleitorais a invalidassem. A organização informou ter consultado o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) a respeito, mas não obteve resposta.

A lei permite que os partidos políticos nomeiem um substituto em caso de morte de um candidato antes da eleição. Antes de a candidatura ser qualificada pelo CNE, é aberta uma fase de impugnação.

A norma eleitoral destaca que as candidaturas, uma vez inscritas, são irrenunciáveis e que nenhuma pessoa pode aspirar a mais de um cargo de eleição popular.

O Construye decidiu “que seja o irmão de luta de Fernando Villavicencio, Christian Zurita, que me acompanhe a não deixar que os prazos do CNE (Conselho Nacional Eleitoral) sejam motivo de desqualificação”, disse González durante coletiva de imprensa em Quito.

O partido tinha aventado a possibilidade de González aparecer como candidata a vice na cédula eleitoral e assumir o poder em caso de vitória.

“Até o momento, não temos clareza de como podemos e devemos proceder”, afirmou Iván González, secretário do partido.

Zurita, que apareceu vestindo colete à prova de balas, assim como González, desvendou, juntamente com o amigo Villavicencio, o caso de corrupção que resultou na condenação à revelia do ex-presidente Rafael Correa (2007-2017) a oito anos de prisão.

Em 2011, Correa processou Zurita e o colega dele, Juan Carlos Calderón, por danos morais pela publicação de um livro que revelava contratos irregulares de seu irmão. O caso foi arquivado a pedido do ex-presidente. Um juiz determinou que pagassem dois milhões de dólares (aproximadamente 3 milhões de reais, em cotação da época).

“Não podia permitir que seu projeto político se perdesse ante o Conselho Nacional Eleitoral por uma possível destituição de sua candidatura”, afirmou Zurita, de 53 anos, e cuja participação ainda não foi reconhecida pelo CNE.

O novo candidato acrescentou que o projeto de Villavicencio, assassinado a tiros na quarta-feira, supostamente por pistoleiros colombianos, “está intacto”.

A respeito do debate presidencial obrigatório deste domingo, o único oficial de toda a campanha presidencial, Zurita explicou que não poderá participar, pois sua candidatura ainda não foi oficializada.

– Envolvidos têm ficha longa –

Ainda não há certeza sobre os autores intelectuais do crime. Neste domingo, a polícia assegurou que o pistoleiro que assassinou o candidato e outros seis colombianos, capturados por envolvimento com o crime, têm uma “infinidade de delitos” em seu país e no Equador.

“Foram estabelecidas diferentes coordenações através da Interpol para, desta forma, conhecer os antecedentes policiais que tinham” os supostos assassinos, disse, em coletiva de imprensa, o comandante da polícia, general Fausto Salinas.

Informações da polícia colombiana demonstram que alguns deles foram condenados ou estão vinculados na Colômbia a casos de tráfico, fabricação e porte de armas, extorsão mediante sequestro, furto e transporte de entorpecentes, entre outros. No Equador, alguns eram procurados por “receptação”, segundo Salinas.

Depois do crime, dois pistoleiros trocaram tiros com guarda-costas do candidato. Segundo a polícia, um colombiano que efetuou os disparos contra ele, identificado como David Castillo López, foi morto com nove tiros.

O ministro equatoriano do Interior, Juan Zapata, assegurou, por sua vez, que prosseguem as investigações sobre quem foi o mentor do assassinato de Villavicencio.

O presidente equatoriano, Guillermo Lasso, responsabilizou o crime organizado pelo assassinato, sem apontar especificamente para nenhuma das quadrilhas que atuam no país.

Antes de morrer, Villavicencio denunciou que José Adolfo “Fito” Macías, líder do temido grupo criminoso “Los Choneros”, o havia ameaçado. No sábado, o chefe criminoso foi transferido da prisão onde estava para outra de segurança máxima em Guayaquil (sudoeste), embora Zapata não tenha vinculado esta decisão ao crime.

Oficialmente, nenhuma quadrilha foi culpada. “Se nós não colocamos ainda o tema de a que GDO (Grupo de Delinquência Organizada) pertencem (os assassinos) é porque ainda seguimos uma linha investigativa”, concluiu Zapata.

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