Alexandre Ramagem e Bruno Engler, candidatos do PL às prefeituras do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte, receberam R$ 26 milhões e R$ 10 milhões do partido para suas campanhas.

A sigla do ex-presidente Jair Bolsonaro, declarado inelegível até 2030 pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), tem candidaturas em outras capitais — como Maceió, onde o prefeito João Henrique Caldas concorre à reeleição –, mas os repasses robustos do milionário fundo eleitoral sinalizam a importância dada pelo PL ao avanço bolsonarista nessas duas cidades.

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Ramagem

No Rio de Janeiro, a injeção de R$ 26 milhões na campanha de Ramagem se aproxima do limite de gastos que a Justiça Eleitoral estabelece para as campanhas ao cargo no primeiro turno, de R$ 29.381.712,71. O objetivo é fazer o candidato engatar nas pesquisas e reduzir a ampla vantagem do prefeito Eduardo Paes (PSD) — que, por sua vez, recebeu R$ 5 milhões de seu partido — na corrida.

Deputado federal, Ramagem é um nome de confiança de Bolsonaro. Ex-delegado da Polícia Federal, ele coordenou a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) no mandato do padrinho, quando ela foi usada para monitorar ilegalmente ministros do Supremo, políticos, jornalistas e advogados.

Na campanha para a prefeitura, ele tem destacado a imagem de Bolsonaro e apostado na associação à imagem do líder de forma desavergonhada, ao contrário de nomes menos fiéis ao ex-presidente nos pleitos municipais.

Engler

Munido de R$ 10 milhões do PL em Belo Horizonte, onde o teto de gastos no primeiro turno é de R$ 39.500.490,40, Engler tem mais recursos partidários e tempo de televisão do que oponentes importantes, como o atual prefeito Fuad Noman (PSD), mas também custa a engatar nas pesquisas de intenção de voto.

Nome forte da direita na Alemg (Assembleia Legislativa de Minas Gerais), o candidato é ‘parceiro político’ de um dos principais representantes do bolsonarismo no Congresso, o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), com quem dividiu materiais de campanha nas eleições de 2022.

Com os cofres de campanha cheios, Engler tem apostado na associação a Ferreira para impulsionar a candidatura nas redes sociais e receberá Jair Bolsonaro para um ato de campanha nesta quinta-feira, 5, na cidade, reforçando a proximidade com o ex-presidente.

Evitar o ‘segundo raio’ no mesmo lugar

Parte da organização do grupo, que vai da seleção de nomes fiéis ao bolsonarismo à injeção de recursos para a campanha, tem como objetivo não repetir os erros das eleições de 2020. Na ocasião, mesmo à frente do Palácio do Planalto, Bolsonaro teve dificuldade em emplacar aliados nas prefeituras das capitais.

O então presidente havia deixado o PSL (hoje União Brasil) ao lado de seus filhos e aliados próximos, mas o embarque no PL viria a ocorrer apenas em 2021, o que dificultou a definição de nomes de consenso e organização das campanhas. Ao mesmo tempo, Bolsonaro se manifestava contra a vacinação e outras medidas comprovadamente efetivas contra a covid-19 enquanto a doença matava milhares de pessoas no país, o que afastou siglas do chamado “centrão” de seu arco de apoios nos pleitos municipais.

No Rio, Bolsonaro deu um apoio pouco efetivo ao então prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) que, muito rejeitado, perdeu o cargo para Eduardo Paes (PSD). Em Belo Horizonte, viu Alexandre Kalil (PSD) ser reeleito ainda no primeiro turno.

Ambos os eleitos — incluindo Fuad Noman, que assumiu o cargo após a renúncia de Kalil — apoiaram Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais de 2022 e, embora tenha obtido maioria dos votos nas duas cidades, o candidato incumbente viu sua votação diminuir expressivamente nelas em relação a 2018.

Ao lado de Paes, Lula conquistou 4,1 milhões de votos na capital fluminense, ante 5,4 milhões do adversário — em 2018, Fernando Haddad (PT) recebeu 2,6 milhões, contra 5,6 milhões do presidente eleito. Já em BH, Bolsonaro viu a vantagem de 428 mil votos imposta sobre o atual ministro da Fazenda se reduzir para 131 mil contra Lula. Os municípios são o segundo e terceiro maiores colégios eleitorais do país — atrás apenas de São Paulo.