ROMA, 24 NOV (ANSA) – O partido antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), uma das principais forças políticas de oposição na Itália, aprovou uma série de mudanças que o aproximam do establishment, reforçam o papel do ex-premiê Giuseppe Conte como líder e removem os poderes de seu fundador, o comediante Beppe Grillo, figura essencial na ascensão da legenda.   

Em uma assembleia constituinte encerrada neste domingo (24), 62% dos eleitores votaram pela abolição do cargo de “garantidor” do M5S, que era ocupado por Grillo e responsável por “proteger os valores fundamentais da ação política” do movimento.   

No exercício dessa função, o humorista tinha o poder de interpretar livremente o estatuto do partido e até convocar uma votação para pedir a destituição do presidente da sigla, cargo ocupado por Conte desde 2021.   

O posto de garantidor será substituído por um colegiado eleito pelos membros do M5S, o que, na prática, acaba com os poderes de Grillo e garante autonomia para Conte gerir o partido e promover a desejada aproximação com a centro-esquerda.   

A assembleia de filiados do M5S também aprovou que o movimento se declare como “progressista independente” e rejeitou com 81,2% dos votos uma regra que proibiria alianças com outros partidos. No entanto, 92,4% dos eleitores determinaram que as coligações terão de ser condicionadas a um “acordo programático preciso”.   

Além disso, o M5S aprovou o fim da regra que proibia seus integrantes de exercerem quaisquer cargos públicos por mais de dois mandatos consecutivos, o que causou problemas para a sigla renovar sua classe dirigente. Daqui em diante, os membros do M5S poderão ter até três mandatos seguidos em uma mesma função.   

Dessa forma, um vereador em terceiro mandato, por exemplo, poderá concorrer para prefeito e começar a contagem do zero.   

Todas essas propostas eram criticadas por Grillo.   

“Pensamos nessa constituinte para traçar uma nova rota, para escutar as bases, apesar das cisões e traições de alguns que tinham contribuído para o sonho. O fogo está vivo e permanece dentro de nós”, garantiu Conte.   

“Somos progressistas na medida em que não nos pertence a cultura reacionária”, ressaltou o presidente do M5S. Ao todo, 54,5 mil dos 89 mil inscritos no partido participaram da votação.   

Fundado por Grillo em 2009, o M5S rompeu a polarização entre direita e esquerda na Itália e foi o partido mais votado nas eleições de 2018, com pouco mais de 30% da preferência. O resultado levou Conte, que não era uma figura de destaque no movimento, ao cargo de premiê em junho daquele ano, primeiro em aliança com a legenda da direita nacionalista Liga e depois, a partir do segundo semestre de 2019, em coalizão com a centro-esquerda.   

Conte governou até fevereiro de 2021, quando foi substituído por um gabinete de união nacional encabeçado pelo independente Mario Draghi, mas assumiu a liderança do M5S e foi eleito deputado nas eleições de outubro de 2022.   

Ao longo dos anos, no entanto, o movimento perdeu apoio tanto de eleitores eurocéticos que haviam sido atraídos por seu discurso antissistema quanto daqueles que viam no partido um caminho para renovar a esquerda.   

A renovação do M5S ganhou força diante dos resultados de eleições regionais neste ano, que mostraram que, juntos, PD e M5S têm mais chances de fazer frente ao domínio da coalizão da premiê de direita Giorgia Meloni. (ANSA).