Os seguidores de Jair Bolsonaro compartilham em massa imagens de supermercados vazios e da repressão policial em Caracas e afirmam que o Brasil vai virar uma Venezuela se o petista Fernando Haddad vencer o segundo turno das eleições no domingo.

A chegada de milhares de venezuelanos pela fronteira terrestre entre os dois países também se tornou um postal contra o PT nos fóruns de debate.

“Cenas de holocausto na Venezuela, regime apoiado por Haddad e pelo PT, é isso o que eles querem implantar aqui”, afirmou no fim de semana um membro de um dos milhares de grupos de Bolsonaro no Whatsapp, referindo-se a um vídeo que mostra um grupo de homens esqueléticos pedindo remédios, com uma bandeira da Venezuela ao fundo.

Haddad tem sido constantemente questionado na campanha pelo apoio do PT aos governo de esquerda da Venezuela. A cooperação começou com a aliança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), agora preso por corrupção, com o bolivariano Hugo Chávez, falecido em 2013. E se manteve com o atual presidente Nicolás Maduro.

Haddad afirmou em agosto que a Venezuela não pode ser caracterizada como uma democracia por viver um conflito interno e que, se fosse eleito, não se alinharia com regimes autoritários. Mas jamais se afastou declaradamente do governo de Maduro.

“O próprio PT apoia indiscriminadamente as ditaduras fascistas de Cuba e da Venezuela, que matam e torturam”, comentou uma pessoa em outro grupo do Whatsapp.

Entre os venezuelanos que chegam ao Brasil, muitos manifestam uma rejeição explícita ao PT de Haddad por sua ligação com Chávez e Maduro, apesar de políticos ligados a Bolsonaro terem se manifestado a favor de restringir seu acesso ao país.

O PT respondeu na segunda-feira com um vídeo postado na redes sociais com o título: “Por que Bolsonaro fala tanto da Venezuela?”, no qual acusam o capitão da reserva de usar esse país como uma cortina de fumaça para evitar outros debates.

– Erro eleitoral –

Apesar da ameaça de “venezuelanização” já ter influenciado em várias eleições da região, nunca teve tanto peso como no Brasil. As buscas por “Venezuela” no Google alcançaram em outubro seu pico mais alto desde o começo da série histórica em 2004.

“As pessoas obviamente têm uma noção muito vaga do que acontece na Venezuela. Como Cuba antes, com a crise dos refugiados, se converteu numa espécie de símbolo da narrativa dos supostos perigos de um governo de esquerda”, opina Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

Foi um erro do PT manter esse apoio? Para Stuenkel, “certamente foi do ponto de vista eleitoral, porque o eleitor brasileiro tem uma imagem muito negativa da Venezuela”.

Mas Bolsonaro chegou a flertar com a “revolução bolivariana” de Chávez. Em uma entrevista de 1999, disse que o então presidente venezuelano era “uma esperança para a América Latina”.

Chávez, um tenente-coronel que apostou na via eleitoral depois de um fracassado golpe de Estado, arrasou nas eleições de 1998 com um discurso anti-establishment. Modificou em sucessivas eleições toda a estrutura estatal do país que, em 20 anos, viria a enfrentar a pior crise de sua história.