O Parlamento Europeu vota nesta quarta-feira para ratificar o tratado de retirada sobre os termos do divórcio entre o Reino Unido e a União Europeia, um dia particularmente emocionante, dois dias antes da partida dos britânicos.

A líder dos social-democratas (S&D) no hemiciclo, a espanhola Iratxe Garcia, não conseguiu conter as lágrimas ao se despedir de seus colegas britânicos.

“É um dia triste para o nosso Parlamento”, lamentou David Sassoli, presidente (S&D) da instituição durante a pequena cerimônia organizada por seu partido. “Em um dia como esse, devemos nos unir ainda mais”, afirmou.

O dia começou com uma coletiva de imprensa de Nigel Farage, líder do Partido do Brexit e histórico opositor da UE no hemiciclo.

Satisfeito por ter interpretado “o vilão”, alimentou a oposição à UE com vídeos no YouTube e intervenções teatrais. Mas também insistiu na gravidade do Brexit, que ele comparou com a ruptura de Henrique VIII com o papa de Roma em 1534.

A votação histórica está agendada para 18h00 (14h00 de Brasília) após um debate de duas horas. A votação em si durará apenas alguns minutos e passará por maioria simples dos votos expressos.

Muitos meios de comunicação se preparam para contar a história ao vivo.

Na Praça do Parlamento, um casal de turistas esperava que um jornalista terminasse de falar antes de posar com a bandeira britânica. “Enquanto ela ainda está lá. Porque é muito triste”, disse o marido.

O representante do Reino Unido na UE, Tim Barrow, apresentou esta manhã no Conselho Europeu o documento oficial que mostra que Londres cumpriu todas as suas obrigações legais de deixar a UE.

O último passo será a adoção por procedimento escrito do tratado na quinta-feira pelo Conselho (os Estados membros). Após 47 anos de um relacionamento muitas vezes difícil, o Brexit entrará em vigor na sexta-feira às 23h00 GMT (20h00 de Brasília).

Há uma semana, a comissão parlamentar responsável pelo assunto recomendou uma votação a favor do acordo, por uma grande maioria.

Nessa ocasião, Guy Verhofstadt, que presidiu o grupo de contatos durante todas as negociações sobre o tratado, lembrou que não se tratava de bloquear o divórcio. “A escolha é entre um Brexit em ordem e um Brexit difícil”, insistiu.

A votação desta quarta sela a saída dos eurodeputados britânicos, sem que a UE realmente saiba dizer adeus.

Os pró-Brexit planejaram a maior parte de suas comemorações em casa. O momento não é muito glorioso para o bloco europeu: depois de anos de alargamento, é a primeira vez que um membro sai.

A assinatura do tratado de retirada na semana passada pelos presidentes das instituições Ursula von der Leyen e Charles Michel, sem a presença da mídia, surpreendeu.

Também não houve cerimônia formal para a retirada das bandeiras britânicas.

“Isso será feito com toda a dignidade necessária”, prometeu um porta-voz do Parlamento, especificando que um exemplar será mantido no Museu de História da Europa em Bruxelas.

Uma breve cerimônia está prevista após a votação.

Um capítulo se encerra, mas abre-se um novo período de negociações igualmente difícil: o de transição até o final de dezembro, durante o qual o Reino Unido continuará a aplicar as regras comunitárias, a UE e Londres terão que definir seu futuro relacionamento.

O negociador da UE Michel Barnier apresentou o projeto de mandato de negociação à Comissão Europeia nesta quarta-feira, mas que não será tornado pública até segunda-feira, quando o Reino Unido se tornar um país terceiro.

“O dia da partida britânica certamente não é de comemoração, mas de tristeza”, comentou o comissário europeu Maros Sefcovic em entrevista coletiva. “Mas agora passamos ao próximo capítulo”.

bur-zap-alm-mla/fmi/mr/mr