O Parlamento Europeu suspeita que o partido de extrema direita francês, Reagrupamento Nacional (RN), e vários de seus aliados na Câmara cometeram irregularidades financeiras como gastos excessivos ou doações para associações, de acordo com um relatório revelado nesta quinta-feira (3) por vários meios de comunicação.
Os escândalos sobre o uso irregular de fundos por eurodeputados costumam ser frequentes. Na França, a líder de extrema direita Marine Le Pen foi condenada este ano por desvio de fundos, o que a impede por enquanto de candidatar-se à eleição presidencial de 2027.
Desta vez, seu partido RN é suspeito, juntamente com seus aliados do ex-grupo Identidade e Democracia, de ter “gasto indevidamente” mais de 4,3 milhões de euros (27 milhões de reais) entre 2019 e 2024, segundo um relatório da direção de Assuntos Financeiros do parlamento.
A maior parte beneficiou duas empresas vinculadas a pessoas próximas a Marine Le Pen, segundo este documento revelado pelo jornal francês Le Monde, o programa de televisão alemão Kontraste, a revista Die Zeit e o semanário austríaco Falter.
A agência de comunicação e-Politic recebeu assim 1,7 milhão de euros (10,9 milhões de reais) após uma licitação marcada por “graves problemas de conformidade”, segundo os inspetores, que consideram, portanto, que “todos esses gastos (…) são irregulares”.
O mesmo ocorreu com a empresa Unanime, que ganhou mais de 1,4 milhão de euros (8,7 milhões de reais) por trabalhos de impressão, além de subcontratados a menor custo, com uma margem estimada em 260.000 euros (1,6 milhão de reais).
O Parlamento Europeu também aponta as múltiplas doações de RN e seus aliados para associações que “não têm relação alguma” com suas atividades políticas em Bruxelas, em campos como a esterilização de gatos de rua, associação de bombeiros voluntários, etc.
Ao todo, mais de 700.000 euros (4,4 milhões de reais) foram assim distribuídos em cinco anos para estruturas frequentemente vinculadas a pessoas próximas a eurodeputados de extrema direita ou situadas em sua região eleitoral.
Em declarações ao Le Monde, o ex-secretário-geral do grupo Identidade e Democracia, o belga Philip Claeys, assegurou que “todos os pagamentos efetuados nos últimos cinco anos foram devidamente faturados, justificados e controlados”.
Marine Le Pen afirmou na emissora RTL desconhecer o tema, mas assegurou que “pode haver desacordos administrativos com o Parlamento Europeu”. “Tentaremos, como sempre, resolvê-los”, acrescentou, antes de qualificar a instituição como um “órgão político”.
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