Parlamento derruba governo em Portugal e país terá novas eleições

Parlamento derruba governo em Portugal e país terá novas eleições

O Parlamento de Portugal rejeitou nesta terça-feira, 11, uma moção de confiança no governo minoritário de centro-direita, provocando sua queda após apenas 11 meses, o que provavelmente provocará uma eleição antecipada — a terceira do país em pouco mais de três anos.

Os parlamentares votaram por 142 a 88, com zero abstenções, contra a moção apresentada na quinta-feira passada pelo primeiro-ministro Luis Montenegro, depois que a oposição questionou sua integridade em relação aos negócios de uma empresa de consultoria que ele fundou e que agora é administrada por seus filhos.

O governo de Montenegro permanecerá em um papel interino.

Montenegro, do Partido Social Democrata (PSD), de centro-direita, negou ter cometido irregularidades ou qualquer falha ética na empresa, que tem contratos com empresas privadas.

“A insinuação de que misturei meus negócios e minha atividade política é completamente abusiva e até mesmo insultante. Uma falsidade repetida não se torna verdade, mas contamina o ambiente político… é disso que o populismo se alimenta”, disse ele ao Parlamento antes da votação.

Agora cabe ao presidente Marcelo Rebelo de Sousa convocar ou não uma nova eleição parlamentar após uma rodada de consultas, que provavelmente ocorrerá nos próximos dias. Ele disse que uma nova votação poderia ser realizada em meados de maio.

Estabilidade é vista como algo difícil

Os analistas consideram que uma eleição antecipada é praticamente inevitável, mas não veem um mandato forte para nenhuma força política que venha a emergir do pleito.

Enquanto isso, os eleitores já estão demonstrando cansaço eleitoral e desilusão com os políticos.

“Isto parece uma anedota, ninguém percebe porque é que há uma nova eleição tão cedo. Os políticos culpam-se uns aos outros, mas todos eles estão a ser irresponsáveis”, disse João Brito, 70 anos, funcionário público aposentado no centro de Lisboa.

O cientista político Adelino Maltez, da Universidade de Lisboa, apontou para pesquisas de opinião que mostram pouquíssimas mudanças nas preferências dos eleitores em relação à eleição de março de 2024, na qual a Aliança Democrática (AD), liderada pelo PSD de Montenegro, venceu por apenas 1.500 votos, garantindo 80 assentos na Câmara de 230 lugares.

A AD e os socialistas, que agora têm 78 cadeiras, estão muito próximos na maioria das pesquisas.

“O problema é que as novas eleições não serão conclusivas… A AD e os socialistas estão empatados. É uma situação que lhes será difícil de gerir”, disse Maltez, vendo um pacto centrista entre o PSD e os socialistas como a única solução.

Os dois principais rivais políticos de Portugal só tiveram um acordo desse tipo no Parlamento uma vez, em 1983-1985.

“Se não o fizerem, será mais da mesma instabilidade”, disse Maltez, que considera os programas dos rivais como amplamente compatíveis.