O Parlamento de Kosovo aprovou, nesta quinta-feira, sua própria dissolução e abriu caminho para a convocação de eleições legislativas antecipadas, o que atrasará a retomada do diálogo com a Sérvia.

A medida, apoiada por 89 dos 120 deputados do Parlamento, foi motivada pela impossibilidade de formar uma nova maioria, após a renúncia em julho do primeiro-ministro Ramush Haradinaj.

Ex-comandante da guerrilha kosovar durante o conflito de 1998-1999 contras as forças sérvias, Haradinaj, 51 anos, anunciou sua renúncia depois de ser convocado por um tribunal internacional por suspeitas de crimes de guerra.

“O Parlamento decidiu dissolver a sexta Assembleia. O resultado da votação será entregue ao presidente da República de Kosovo para ser oficializado, visando a organização de eleições antecipadas”, declarou o presidente do Parlamento, Kadri Veseli.

Ramush Haradinaj, cujo gabinete administra as questões burocráticas do país, declarou à imprensa que, com a votação, “Kosovo enviou uma mensagem de grande maturidade e democracia”.

“O diálogo (com a Sérvia) é um dos temas importantes. Acredito que deveríamos discutir o assunto após as eleições”, completou.

Haradinaj já compareceu a uma primeira audiência, em 24 de julho, ao tribunal internacional, instalado em 2015 em Haia.

A corte é responsável por investigar os supostos crimes cometidos pela guerrilha albanesa (UCK) no Kosovo, principalmente contra sérvios, romenos e opositores albaneses ao UCK, durante e depois do conflito.

O Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia (TPII) o absolveu em 2008 e em 2012 dos crimes contra civis sérvios, romenos e albano-kosovares.

A guerra do Kosovo, último conflito na ex-Iugoslávia, deixou mais de 13.000 mortos, incluindo mais de 11.000 albano-kosovares, 2.000 sérvios e centenas de romenos.

As autoridades dispõem agora de 45 dias para organizar eleições – a imprensa cita a data de 6 de outubro. O presidente Hashim Thaçi deve fazer um anúncio oficial em breve.

A situação atrasa a retomada do diálogo com a Sérvia, que se recusa a reconhecer a independência proclamada em 2008 por sua ex-província meridional, apoiada pela maioria dos países ocidentais.

O diálogo, iniciado em 2011 com a mediação da União Europeia, está paralisado há vários meses.

O presidente sérvio Aleksandar Vucic afirmou que o diálogo pode ser retomado em dezembro, “na melhor das hipóteses”, após a formação do novo governo kosovar.

No passado, o Parlamento kosovar foi dominado por coalizões lideradas por ex-chefes de guerra, como Haradinaj ou Thaçi.

Possíveis novas coalizões de partidos de oposição poderiam, por exemplo, levar o Partido Democrático de Kosovo do presidente Thaçi à oposição pela primeira vez em mais de 10 anos, afirmam analistas.

Haradinaj prometeu que, se não for condenado pelo tribunal de Haia, retornará à política.