Depois de semanas de procrastinação, a França finalmente repatriou, nesta sexta-feira, cinco crianças de jihadistas com idade inferior a cinco anos, “órfãs e isoladas”, que estavam no nordeste da Síria, anunciou o Ministério das Relações Exteriores.

Essas crianças, as primeiras a serem repatriadas da Síria, estavam em lares de acolhimento ou acampamentos, todas órfãs, pelo menos de mãe, mesmo se a incerteza permaneça sobre o destino de alguns pais, de acordo com uma fonte diplomática.

As crianças embarcaram em um avião da Força Aérea Francesa.

Elas “estão tendo acompanhamento médico e psicológico especial e foram entregues às autoridades judiciais”, anunciou o ministério em um comunicado. Quatro estão “mais ou menos saudáveis”, mas a quinto, “ferida”, está em “um estado de saúde ruim”, disse a fonte diplomática.

Enquanto as famílias lutam na França pelo retorno dessas crianças, ressaltando que são vítimas de uma situação que não escolheram, as autoridades francesas têm relutado para organizar as repatriações.

O presidente Emmanuel Macron falou na quarta-feira de “uma análise caso a caso (…) conduzida com a Cruz Vermelha Internacional”. “É uma abordagem humanitária acompanhada com grande vigilância”, declarou em Nairóbi.

Observações que provocaram indignação no Coletivo Famílias Unidas, que reúne 70 famílias francesas de pessoas que ingressaram em território controlado pelo grupo Estado Islâmico (EI), cujo último reduto no leste da Síria está prestes a cair para a coalizão árabe-curda das Forças Democráticas Sírias (FDS).

Na França, o país ocidental mais afetado por ataques cometidos em nome do EI, o assunto é delicado. De acordo com uma pesquisa publicada no final de fevereiro, 89% dos franceses dizem estar “preocupados” com um possível retorno dos jihadistas (adultos), e 67% dizem que são favoráveis a deixar a Síria e o Iraque cuidar das crianças.

– “Particularmente vulneráveis” –

As iniciativas aumentaram recentemente em favor dos filhos dos jihadistas, dos quais ninguém sabe ao certo o número. Seriam mais de 3.500 de mais de 30 países em campos de deslocados, de acordo com a ONG Save The Children.

No final de fevereiro, pelo menos 80 crianças francesas estavam nas mãos das forças árabe-curdas, segundo estimativas de fontes francesas não confirmadas pelas autoridades.

Após uma queixa contra a França apresentada em fevereiro ao Comitê dos Direitos da Criança da ONU, duas advogadas, Marie Dosé e Henri Leclerc, lançaram uma petição para a repatriação dos menores.

Ao mesmo tempo, duas famílias acionaram a justiça administrativa para obrigar o Estado francês a repatriar crianças “em risco”.

No entanto, o secretário de Estado para o Interior, Laurent Nunez, disse na quarta-feira que o retorno das crianças não era “considerado neste momento”, explicando que “as Forças Democráticas da Síria preferem que as crianças permaneçam com suas mães”.

Em seu comunicado, o ministério das Relações Exteriores ressaltou nesta sexta-feira que “a França agradece às Forças Democráticas Sírias por sua cooperação, que tornou possível” esse repatriamento.

“A decisão foi tomada à luz da situação dessas crianças muito jovens e particularmente vulneráveis”, disse o ministério.

Outras crianças poderiam “ser trazidas caso a caso”, mas em nenhum caso com a mãe, de acordo com a fonte diplomática.

Isso porque Paris continua inflexível em relação aos adultos. “Com relação aos franceses adultos, combatentes e jihadistas que seguiram o Daesh (sigla em árabe do EI) no Levante, a posição da França não mudou: devem ser julgados no território onde cometeram seus crimes, é uma questão de justiça e segurança”, explicou o ministério em um comunicado.