O presidente Emmanuel Macron garantiu que os Jogos Olímpicos de Paris marcarão o “orgulho esportivo francês”, mas, segundo os observadores, seus esforços para alcançar um grande sucesso em termos de organização e no quadro de medalhas não vão melhorar sua baixa popularidade.

“O ano de 2024 será de orgulho esportivo francês porque os Jogos Olímpicos e Paralímpicos vão acontecer na nossa casa, na França”, declarou Macron durante seu discurso de Ano Novo no dia 31 de dezembro.

A seis meses dos Jogos, este “treinador autoproclamado”, como definiu no início de janeiro o jornal L’Opinion, tenta monopolizar a atenção olímpica, como demonstrou com sua visita ao centro de formação de atletas de elite Insep nesta terça-feira (23).

“Nosso objetivo de Top 5 olímpico é mais alcançável do que nunca (…) Não quero colocar uma pressão excessiva, mas faço isso sempre e continuarei fazendo. É uma pressão sadia, mas eu confio em todos”, disse o presidente diante de dezenas de atletas.

Além do sucesso na organização do evento, depois do caos na final da Liga dos Campeões em maio de 2022 arranhar a imagem da França, Macron confirmou o objetivo da delegação francesa de terminar entre as cinco primeiras posições no quadro de medalhas.

Nos Jogos de Tóquio em 2021, a França foi a oitava colocada, mas Macron então repreendeu os atletas franceses ao afirmar que o “balanço global” dos resultados “não estava no nível” esperado.

O presidente “é competitivo, alguém que obviamente gosta dos desafios e é fascinado por duas coisas: o sucesso individual dos atletas e sua dimensão patriótica”, afirmou o cientista político Jean Petaux.

A chegada de Macron ao poder foi uma maratona. Em 2017, ele se tornou o presidente mais jovem, com a promessa de reformar a França, mas sua popularidade caiu desde então devido a crises políticas e sociais e agora gira em torno dos 30%.

– A euforia da Copa de 98 –

“Este tipo de evento [como os Jogos Olímpicos] é a chance de lançar uma grande operação de comunicação”, aponta outro cientista político, Pascal Perrineau, para quem o presidente poderá abandonar o atrito político e recuperar sua imagem.

Mas os especialistas consultados pela AFP são céticos quanto a um eventual sucesso na organização e no quadro de medalhas impulsionar sua popularidade, como aconteceu com o ex-presidente Jacques Chirac em 1998, quando a França ganhou a Copa do Mundo de futebol em casa.

“Em 98, os efeitos políticos da vitória foram reais”, afirma Petaux, para quem a “recuperação política” de Chirac se deve à vitória dos ‘Bleus’ e à “naturalidade” do presidente conservador (1995-2007) com os jogadores.

A situação foi diferente em 2018. A França conquistou seu segundo Mundial na Rússia, mas Macron enfrentou sua pior crise social quatro meses depois: os protestos dos ‘coletes amarelos’, que repercutiram em todo o mundo.

“Macron não inspira tanta simpatia potencial como Chirac”, diz Petaux, para quem o fato de o título de 2018 não ter sido o primeiro da França contribuiu para que não houvesse uma “festa popular”.

Se, apesar de tudo, os Jogos Olímpicos trouxerem uma melhoria para a imagem de Macron, “esta será efêmera”, conclui Perrineau, lembrando que quando o período eleitoral chegar na França, “regressaremos a uma política mais conflituosa”.

Com um 2024 marcado pelo aniversário de 80 anos dos desembarques da Normandia, os Jogos Olímpicos e a reabertura da catedral de Notre Dame, Emmanuel Macron tem diante de si um parêntesis político, antes de a corrida por sua sucessão começar em 2027.

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