04/04/2018 - 15:48
Foi reativada hoje (4), na favela da Rocinha, no Rio, a Escola de Hotelaria no Centro de Cidadania Rinaldo de Lamare. A parceria entre o Ministério do Desenvolvimento Social, a prefeitura e o Sesc e Senac RJ vai possibilitar a abertura de 160 vagas para cursos de camareira, recepcionista e organizador de eventos para jovens da comunidade. Uma cerimônia no local marcou a reabertura da escola.
O ministro do Desenvolvimento Social, Osmar Terra, destacou que a parceria faz parte das ações emergenciais do programa Progredir, lançado em setembro do ano passado, com o objetivo de incentivar o empreendedorismo entre os beneficiários de programas sociais do governo federal.
Segundo Terra, a ação também é uma contribuição da pasta para a intervenção na segurança pública do estado.
“O país foi tomado por uma epidemia de violência e de drogas, estamos vivendo um tempo muito difícil e que agora começa o processo de reversão disso. Não é simples fazer isso, é uma bola de neve que foi crescendo e agora temos que fazê-la voltar. Não se faz sozinho e só com repressão, embora a repressão seja importante, temos que resgatar a autoridade”.
O ministro disse que o Sesc vai oferecer 4 mil vagas para a capacitação em áreas de comércio, serviço e turismo para o público do Progredir. Ele anunciou que pretende levar para a Rocinha o programa Criança Feliz, de atenção à primeira infância.
“É missão hoje das Forças Armadas e das forças de segurança do Rio de Janeiro mostrar que aqui quem manda é o estado democrático, não é um grupo de traficantes. Isso é muito importante até pra libertar a juventude e poder trabalhar com ela o processo educacional, poder entrar com liberdade nas zonas de riscos, nas favelas, trazer a juventude para o contraturno da escola, para a capacitação profissional”.
O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, destacou que a comunidade passa por um momento difícil, mas “é fundamental não cair na paralisia” e continuar com esperança e sonhos.
“Os jovens estão morrendo no Brasil como se nós vivêssemos numa guerra. E com a morte dos jovens, está morrendo o nosso futuro. Vocês são os nossos filhos. A perda de um jovem é a perda de um filho, isso nos toca muito, nos faz sentir culpados. Por isso esses projetos são sementes, você abre portas para quem tem as portas da vida fechadas. Uma geração que não tem portas não é capaz de produzir o seu próprio futuro. Por isso, eu considero o trabalho social, as oportunidades com o trabalho social, as mais importantes que nós podemos fazer, não só pelo futuro do Rio de Janeiro, mas pelo futuro do Brasil.”
Sobre a intervenção na segurança, Jungmann afirmou que “estamos vencendo a batalha”. “Eu sei que, no dia a dia, a gente encontra com crimes, com mortes e fuzis nas ruas. Mas o trabalho do interventor tem feito com que as estatísticas estejam caindo hoje, sobretudo as de homicídio.”
O interventor federal na Segurança Pública no Estado do Rio de Janeiro, general do Exército Walter Souza Braga Netto, também participou da solenidade.
Oportunidade
O prefeito Marcelo Crivella destacou a importância do projeto para oferecer uma perspectiva diferente do que a do crime organizado ao jovem da comunidade. “Aqui demora, ninguém chega a general em uma semana. No tráfico, você começa hoje e no fim de semana tem R$ 2 mil no bolso. Aqui custa suor, tem que ter esforço e dedicação. Mas é assim, edificar sua vida sobre a rocha, e não sobre a areia, para crescer e ninguém derrubar”.
A presidente da Associação de Moradores da Rocinha, Adriana de Medeiros Paz, disse que a comunidade passa atualmente pelo “pior momento de sua história”, com oito meses seguidos de conflitos constantes.
“Os jovens precisam de oportunidades. Se aqueles jovens tivessem tido oportunidades, muitos estariam vivos e não dariam tanto problema para polícia. Entrei para a associação no intuito de buscar parcerias para transformar a vida desses jovens. Porque se não for assim, nada vai mudar. A violência vai continuar e os jovens vão continuar sendo inseridos no tráfico de drogas, porque é a única opção no momento”.
Segundo Adriana, houve grande investimento do governo na Rocinha, mas não se pensou na educação. “Pensou em fazer maquiagem, em tirar de área de risco, maravilhoso, mas não se pensou na educação, na qualificação e na transformação desses jovens. Então o que a gente vê hoje é o genocídio dentro da comunidade e não sabemos o que fazer. Mas eu acredito que o caminho é a educação.”
A partir de junho, o Sesc começa a implementar no local o programa de Legado Olímpico, que vai oferecer atividades de esporte, recreação, assistência, saúde, cultura e educação a jovens da rede pública no contraturno da escola e aos moradores, na Arena Carioca 3 do Parque Olímpico da Barra da Tijuca e no Parque Radical de Deodoro.