Um grupo de aproximadamente 30 pessoas espera a abertura do Sesc Paraty/Caborê, unidade recentemente inaugurada na cidade fluminense. É manhã de sexta-feira, 28, e, quando os portões são liberados, a maioria ruma diretamente para uma área descampada e a céu aberto, onde se espalham 34 esculturas do artista pernambucano Francisco Brennand. Trata-se da exposição “Um Espetáculo Fascinante e Bárbaro”, organizada pelo curador Olívio Tavares de Araújo, que escolheu peças significativas vindas da Oficina Brennand, espaço nos arredores do Recife onde o artista – que recentemente completou 90 anos – acomoda seus mais de 1.700 trabalhos.

O fascínio é coletivo – a maioria dos visitantes se surpreende ao descobrir, em vez de perfeitas reproduções humanas, “estranhos habitantes”, esculturas de uma peculiar beleza que, no entender do curador, provocam “uma alegria sui generis que nunca nos joga para baixo. A beleza nos eleva, até nos aprimora como indivíduos”. A mostra se estende até 17 de setembro e integra o calendário da 15.ª Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, que termina neste domingo, 30.

De fato, impossível não suspender a respiração ao se ver diante de obras como Leda e o Cisne (1980), que retrata uma mulher deitada e com as pernas erguidas e cruzadas, ou as faces de Carlota Corday (1993) e Inês de Castro (1994), nas quais, no pouco que mostram, revelam toda a história dessas mulheres. E, para reforçar o vislumbre, todas as peças estão sob uma base escura e cuja iluminação, à noite, provoca a ilusão das estátuas estarem flutuando.

“Brennand é um figurativo de índole expressionista, que deforma e tortura vigorosamente o corpo humano para metaforizar a dor e a angústia”, observa Olívio Araújo, no texto do programa da exposição. “Os machucados dos personagens são os machucados do mundo.” Um raciocínio que explica o interesse de Brennand pela infelicidade dos homens e sua existência trágica. E a forma com que ele transforma isso em arte está explicada no título da exposição, fascinante e bárbara.

Ceramista, pintor, escultor, ilustrador, tapeceiro, gravador, Brennand é o que se pode chamar de um artista plástico perfeito – ao mesmo tempo, local e universal. “Como ele, ao mesmo tempo, absorve naturalmente tudo aquilo que o rodeia, o resultado é que sua obra é a mais universal e a mais fiel à terra de quantas já saíram do Nordeste”, observou um de seus mais fraternos amigos, Ariano Suassuna. Suas exposições ultrapassaram fronteiras, chegando à Alemanha e aos Estados Unidos, e encantaram pela forma com que reinventa a natureza para elaborar uma flora e uma fauna fantásticas, além de promover a fusão entre o amor e a morte.

A exposição em Paraty tornou-se ainda mais especial por ter a cidade (assim como as vizinhas Cunha e Caraguatatuba) uma difundida tradição na arte da cerâmica – a região é servida por muitos ateliês, cursos, escolas e exposições, que fomentam a prática desse estilo. Por conta disso, ao lado das obras de Brennand, o Sesc reservou um espaço para “Tripolar – Cerâmica da Serra e do Mar”, exposição com 14 trabalhos dos artistas Mieko Ukeseki, Alberto Cidraes, Ben Hur Vernizzi Filho e Dalcir Ribeiro, artistas de estilos e inspirações distintos, representantes dos três polos da arte da cerâmica da região e cujas esculturas dialogam diretamente com as do mestre pernambucano. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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