A cidade colonial de Paraty e a paradisíaca Ilha Grande, localizadas no sul do estado do Rio de Janeiro, foram declaradas nesta sexta-feira (5) Patrimônio da Humanidade pela Unesco, por sua mistura única de riquezas históricas e naturais.
A decisão foi tomada na 43ª reunião do Comitê do Patrimônio Mundial, que acontece até quarta-feira, dia 10, em Baku, capital do Azerbaijão.
“A Representação da Unesco no Brasil celebra a inscrição do novo sítio brasileiro na Lista do Patrimônio Mundial. Paraty já é integrante da Rede de Cidades Criativas da Unesco na categoria gastronomia e, agora, mostra a riqueza da diversidade local se tornando patrimônio mundial misto, ou seja, tanto cultural quanto natural”, comemora a diretora e representante da Unesco no Brasil, Marlova Jovchelovitch Noleto.
“Formada pelo intercâmbio das culturas indígena, africana e caiçara que se expressam nos bens culturais da cidade, Paraty engloba uma fusão de características próprias do patrimônio material e do imaterial. (…) Ao se unir à Ilha Grande, o sítio torna-se ainda mais representativo com áreas de beleza natural excepcional”, acrescenta ela.
A presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Kátia Bogéa, comemorou a distinção.
“Nós, orgulhosamente, voltamos para casa com esse título na bagagem. Em Paraty e Ilha Grande, uma área com diversas reservas ecológicas, vemos de maneira excepcional e única uma conjunção de beleza natural, biodiversidade ímpar, manifestações culturais, um fabuloso conjunto histórico e importantes testemunhos arqueológicos para a compreensão da evolução da humanidade no planeta Terra”, declarou.
Trata-se do primeiro lugar misto (patrimônio cultural e natural) do Brasil, que conta agora com 22 localidades na lista de sítios reconhecidos pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Das 1.092 propriedades inscritas na Lista do Patrimônio Mundial, apenas 38 são mistas.
– Riqueza natural e histórica –
A área reconhecida abrange 149 mil hectares e inclui o centro histórico de colônias de Paraty (fundado em 1667 e declarado patrimônio histórico no Brasil em 1958) e quatro reservas naturais ao redor, incluindo a Serra de Bocaina – cujo pico máximo atinge 2.088 metros de altitude – e a ilha paradisíaca de praias da Ilha Grande, uma grande atração turística da chamada “Costa Verde” carioca.
O governo brasileiro concentrou sua candidatura na coexistência de culturas locais – indígenas, quilombolas (descendentes de negros escravizados) e comunidades costeiras de pescadores e artesãos – com rica biodiversidade.
Segundo o Iphan, 85% da Mata Atlântica – um bioma que se estende por toda a costa brasileira – é preservada nessa área.
A candidatura listou 36 espécies de plantas consideradas raras, sendo 29 endêmicas, ou seja, exclusivas daquela região.
Espécies ameaçadas, como a onça-pintada, a anta, ou o macaco muriqui, principal primata da América do Sul, vivem nesta região, que também concentra 45% das aves e 34% dos sapos que vivem nas florestas atlânticas do Brasil.
O ambiente da área reconhecida pela Unesco também inclui uma imensa baía com 187 ilhas revestidas de vegetação nativa e uma rica diversidade marinha, que, apesar de não fazer parte do principal núcleo de proteção, terá regras para restringir a atividade humana e evitar o impacto no meio ambiente.
Entre os tesouros históricos de Paraty e da Ilha Grande, está um trecho da Estrada do Ouro, construída por escravos entre os séculos XVII e XIX, por onde transportavam os metais preciosos extraídos no interior de Minas Gerais até o porto de Paraty, destinados a Portugal.
Antigas fazendas, fortificações, adegas de cachaça e sítios arqueológicos fazem parte do circuito histórico.
A cidade, de cerca de 37.000 habitantes, recebe anualmente a Feira Literária Internacional (Flip) e outros eventos culturais.
Segundo as autoridades locais, o reconhecimento servirá para melhorias estruturais na cidade, como o sistema de saneamento, que ainda é precário.
É a segunda vez que o Brasil indica Paraty como candidato ao Patrimônio Histórico da Humanidade.
A vez anterior, sem sucesso, foi em 2009.
– Outros sítios –
A Unesco também inscreveu nesta sexta em seu Patrimônio o conjunto mesopotâmico da Babilônia, no Iraque, um país devastado há 40 anos pela guerra e onde os extremistas destruíram vários tesouros da Antiguidade.
As autoridades arqueológicas iraquianas conseguiram convencer o júri a incluir na lista este conjunto de 10 km2 – dos quais apenas 15% foram escavados – localizado a 100 km ao sul de Bagdá.
Segundo as autoridades iraquianas, Babilônia, com mais de 4.000 anos, “era a maior cidade habitada da história antiga (…) e os babilônios eram a civilização da escritura, administração e ciência”.
Da mesma forma, o Parque Nacional Vatnajokull, na Islândia, o maior da Europa e com uma paisagem de “fogo e gelo”, passou a fazer parte da lista do Patrimônio Mundial.
Formado por vulcões e rodeado por campos de lava, o parque também é o lar da maior geleira da Europa.
A área protegida com cerca de 14.500 quilômetros quadrados – ou 14% de todo país – é “um exemplo excepcional tanto da interação do gelo e do fogo quanto da separação das placas tectônicas terrestres na Terra”, de acordo com a Unesco.