Tetracampeão parapanamericano e dez vezes campeão brasileiro, Renato Leite, líbero da seleção masculina de vôlei sentado, divide seu tempo entre a carreira como paratleta de alto nível e empreendedor. Formado em Comércio Exterior e pós-graduado em Atividade Física Adaptada, o melhor líbero do mundo em 2014 projeta suas expectativas para Tóquio 2020 e comenta como concilia a rotina de treinos com a carreira e a família.

Aos 18 anos, Renato perdeu a perna em um acidente de moto. Com o sonho de ser jogador de futebol interrompido, o líbero encontrou no vôlei seu lugar de resiliência. “Desde garoto, meu sonho sempre foi ser jogador de futebol. Depois do meu acidente, eu fui reabilitado através do esporte, que eu considero uma grande ferramenta de reabilitação e de inclusão social. Há 19 anos, o vôlei sentado faz parte da minha vida e eu defino a modalidade com uma plasticidade excelente. O voleibol, tanto a modalidade convencional quanto paralímpica, é uma modalidade muito rápida, difícil de jogar e cheia de emoção! Temos que ter resiliência, dentro de cada partida, de cada ponto. Digo que é um dos esportes mais difíceis porque temos que manter o tempo toda a bola no ar”, diz Leite.

Marido de Amanda e pai de Henry e Léo, Renato entende a importância do esporte em seu crescimento pessoal e profissional. “Eu digo que o esporte mudou para muito melhor a minha vida. Me deu uma guinada muito grande”, conta. “Foi através do esporte que eu consegui ingressar em uma faculdade com bolsa 100% integral. O esporte, além de reabilitar e te incluir socialmente, ele abre muitas portas também. O esporte te traz disciplina, muita garra e determinação”, revela.

Atleta do SESI, Leite procura dividir seu tempo entre o empreendedorismo e o esporte. “Eu sempre digo que o maior ativo que nós temos é o tempo. Com o tempo bem administrado você consegue produzir bastante e atingir e alcançar suas metas e seus objetivos. Então, eu consigo administrar bem o meu tempo dentro da modalidade esportiva e também de desenvolver negócios, atender os clientes e ainda trabalhar com reabilitação”, comenta. “Faço a minha atividade física de manhã, depois vou para escritório, faço reuniões, marco almoço de negócios e, à tarde, vou para o SESI treinar. Meu treino é das 18h30 às 21h. Minha rotina é essa, três vezes na semana. E quando a seleção se reúne, ficamos uma semana no Centro Paralímpico, treinando em dois períodos. Nesse tempo eu trabalho no hotel de forma remota, vou falando com meu assessor, com meu sócio, vou fazendo ligações para alguns clientes no tempo entre um treino e outro”, relata.

Ao falar da família, Renato diz que seus entes queridos são sua prioridade, mesmo com a rotina corrida do vôlei sentado. “Os meus treinos são de três a quatro vezes por semana, e apenas uma vez no mês que eu fico concentrado, durante sete dias treinando em dois períodos. Então, nesses dias, eu procuro sempre conciliar aos finais de semana, sempre priorizando minha família, sair com meus filhos, esposa, com meus pais, para almoçarmos juntos. Costumamos fazer isso aos domingos, quando não tenho nenhuma competição, a gente sempre procura almoçar em família. Isso é muito importante”, conta.

Paralímpiadas de Tóquio 2020

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Tendo como melhor resultado um quarto lugar nas paralímpiadas da Rio 2016, o Brasil busca uma medalha inédita para a modalidade. Em Tóquio 2020, o vôlei sentado vai buscar a glória em um grupo com China, Irã e Alemanha, antes das fases finais.

Pela sua primeira partida válida na competição, o Brasil superou a China por 3×1 no último sábado (28). Na última segunda-feira (29), contudo, os atletas não conseguiram repetir o desempenho da estreia e acabaram sendo derrotados pelo Irã por 3×0. Mesmo com o revés, Renato enxerga que o time é capaz de grandes feitos nesta edição dos Jogos Paralímpicos. “Considero que o Brasil vem forte para esses jogos paralímpicos. Nós estamos com uma expectativa de um sucesso muito grande. Nós sabemos que é uma competição de alto índice técnico. São as oito melhores equipes ranqueadas do planeta jogando, então, cada jogo é uma guerra, é uma batalha, mas eu acredito muito na nossa equipe, na superação do nosso time”, pontua.

Flicker/World Paravolley

Renato Leite também acredita que o posicionamento do Brasil no quadro de medalhas possa ser superior à Rio 2016. “Hoje, o Brasil se coloca como uma potência dentro do esporte paralímpico. Na Rio 2016, ficamos em 7º lugar dentro do quadro geral de medalhas, e a nossa meta aqui, a meta do Comitê Paralímpico Brasileiro, é ficar em 5º lugar”, afirma.

Renato Leite nos Jogos Parapan-Americanos 2019 (Crédito:Daniel Zappe)
Daniel Zappe

Em termos pessoais, o multicampeão comentou como foi sua preparação para encarar este ciclo paralímpico, que foi afetado seriamente em decorrência da pandemia da Covid-19. “A minha preparação para esse ciclo de Tóquio foi excelente. A parte ruim foi ficar dois anos sem fazer um jogo oficial, por conta da pandemia. Depois que fomos campeões parapanamericanos, não fizemos mais nenhum jogo oficial pela seleção”, relembra. “Mas a nossa preparação, no geral, foi excelente em relação aos outros ciclos por conta da melhora, do engajamento que foi tendo o movimento paralímpico de empresas apoiando”, acrescenta.

Para o crescimento das modalidades paralímpicas, Renato frisou a importância de órgãos e empresas no suporte aos esportes, assim como o público que acompanha o dia a dia dos atletas. “Os meus maiores apoiadores, eu sempre digo, são a minha família, os amigos próximos, os fãs e os seguidores e apoiadores do movimento paralímpico. E, consequentemente, as empresas e as marcas que acreditam no movimento. E não posso deixar de citar o Governo Federal, que desde 2003, tem um programa muito bacana, o Bolsa Atleta. Isso trouxe um planejamento para que aparecessem mais atletas, mais “Renatos Leites”, mais “Daniels Dias”, dentro do movimento. Não só do movimento paralímpico, mas dentro do movimento olímpico também”, opina.

Empreendedorismo x esporte

Dono de uma empresa de assessoria em negócios internacionais e correspondente da B&T Corretora de Câmbio, o líbero enxerga que a carreira como empreendedor pode ser conciliada com o esporte. “Eu digo que você empreender e ser um atleta tem muitas ligações e lições dentro desse universo. Porque para ser empreendedor, você precisa ter uma determinação muito grande, tem que ter um planejamento, tem que ser resiliente, tem que ter disciplina, paixão pelo que faz, para ter êxito. E dentro do esporte, dentro de uma modalidade, também”, frisa.

Planos para o futuro

Aos 39 anos, Leite revelou que se sente jovem e ainda não pensa em aposentadoria. O líbero visa participar de, no mínimo, mais um ciclo paralímpico. “Apesar de estar chegando aos 40 anos, me sinto ainda muito jovem, com uma energia muito grande. Meu segundo filho, o Léo, tem um ano, eu pretendo jogar mais um ciclo, para que ele possa me ver jogando em alto nível ainda. Ou pelo menos dois ciclos. Sou uma pessoa que me cuido, não tenho histórico de lesão, meu biotipo é muito bom. Eu quero que meu filho se lembre do pai dele ainda jogando em alto nível, representando o nosso país, que ele tenha isso na memória dele. Mas as coisas podem mudar. Isso é que eu penso hoje”, conta.

Renato ganhando seu quarto torneio Parapan-Americano (Crédito:Daniel Zappe)

Para o futuro, o multicampeão tem grandes sonhos e vontades. “Tenho muitos projetos e planos para o futuro. Com certeza, eu penso em um futuro para agregar à modalidade com todo conhecimento técnico-esportivo, tanto como também, dentro do empreendedorismo”, relata. “Quero muito, no futuro, ser um administrador da modalidade do voleibol paraolímpico, além de ser um patrocinador também. Tanto do voleibol quanto da entidade maior que é Comitê Paralímpico Brasileiro”, finaliza.


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