O saldo líquido negativo de 118.776 postos de trabalho apontados pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de março, o pior resultado para o mês desde 1992, quando começou a série histórica, mostra que as empresas estão “sem margem de manobra” para lidar com a recessão. Esta é a avaliação do economista da Parallaxis Consultoria, Rafael Leão. “Em 2015, as companhias ainda tinham algum fôlego para manter sua folha de pagamento, mas isso se esgotou na medida em que o empresário não vê perspectiva de aumento da demanda. Ao longo deste ano vamos ter intensificação desse quadro ruim”, disse.

O resultado de março não foi tão negativo quanto o previsto pela consultoria, que esperava fechamento de 136.600 vagas. “Eu estava mais pessimista, mas ainda assim o número é muito negativo”, afirmou. O que surpreendeu o economista foi o setor de serviços. “Eu previa corte ao redor de 36 mil, 37 mil postos”, disse. Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), houve 18.654 desligamentos neste segmento. Por outro lado, o resultado geral (corte de 118.776 vagas) ficou pior do que apontava a mediana negativa de 95.000 postos encontrada na pesquisa realizada pelo AE Projeções com economistas.

Contudo, o economista alerta que a situação do emprego no setor de serviços tende a se agravar, na medida em que há sinais claros de impacto da recessão. “Já vemos, por exemplo, a inflação de serviços arrefecendo, como efeito da queda da demanda”, citou.

Leão não vê no curto e médio prazos um ponto de inflexão para o mercado de trabalho, que ainda deve sofrer pelo menos até o começo do ano que vem. “Antes de melhorar, vamos ter muita oscilação nos dados de emprego, com recuperação num mês e piora em outro. Somente no segundo trimestre de 2017 poderemos observar melhora marginal”, afirmou. Em seu cenário, o País deve ter fechamento de 1,5 milhão de postos de trabalho em 2016.

Ainda que as exportações tragam um viés de alívio, por exemplo, para o setor industrial, isso não será suficiente para frear o processo de deterioração no mercado de trabalho. “É difícil imaginar que o Brasil vai se tornar um grande mercado exportador. O mercado interno é que tem de melhorar. Só as exportações não vão conseguir trazer de volta o dinamismo. E, ainda, lá fora o panorama também não é tão animador”, avaliou.

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