O conflito entre Israel e Hamas reflete os desafios do jornalismo frente à desinformação, afirmou a filipina vencedora do prêmio Nobel María Ressa, ao apresentar, nesta sexta-feira (10), uma carta internacional de princípios éticos diante do desafio colocado pela Inteligência Artificial (IA).

“Sou jornalista há 38 anos e nunca vivi uma situação como a que estamos atravessando”, disse em uma coletiva de imprensa na sede da ONG Repórteres Sem Fronteiras.

“É uma guerra de informação geopolítica, cujo alvo não são os governos, mas sim os cidadãos, todos e cada um de nós que carrega um smartphone”, acrescentou Ressa, indicando que os jovens entre 18 e 25 anos foram os mais visados.

O documento, apresentado no Fórum da Paz de Paris, busca implementar regras éticas comuns e foi elaborado pela jornalista em conjunto com uma comissão de 32 especialistas reunidos pela ONG.

Com este conflito no Oriente Médio, “vemos o começo das ‘deep fakes’ e isso irá piorar”, afirmou ela, fazendo referência às imagens alteradas pela IA. Além dos desafios apresentados por esta tecnologia, Ressa acredita que a guerra ilustra outras dificuldades do jornalismo.

“É um período difícil para os jornalistas. Devemos escrever ‘o governo de Gaza controlado pelo Hamas’? Só por escrever desta forma podemos ser atacados. E isso se aplica a uma infinidade de frases”, analisou.

Mas para ela, os efeitos da manipulação pela Inteligência Artificial serão especialmente preocupantes em 2024.

“Ao menos 54 países votarão em eleições importantes, uma em cada três pessoas no mundo (…) Estamos longe de poder garantir a integridade das eleições”, declarou.

A Carta sobre a IA contém 10 pontos e determina que “a tomada de decisão das pessoas deve permanecer centrada” nas estratégias editoriais e nas tarefas editoriais de longo prazo.

Em 2021, a jornalista foi premiada com o Nobel da Paz junto ao comunicador russo Dmitri Muratov por sua “corajosa luta pela liberdade de expressão”.

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