O segredo de Glória Maria resumia-se em três palavras: trabalho com perfeição. Em duas palavras: amanhã melhorar. Em uma palavra: profissionalismo.

Em quatro letras: amor.

Não é fácil ser preto no Brasil. O preconceito, sob o tapete da aparente cordialidade e urbanidade brancas, atua da forma mais covarde: nos subterrâneos da pirâmide social.

Menos fácil, ainda, é ser mulher preta em nosso País. As barreiras crescem para elas, porque à discriminação de gênero soma-se a da cor da pele.

Quase impossível é ser preta, mulher e brilhar na televisão, sobretudo vindo de origem humilde. Preta, mulher, pobre, e querer ser ícone profissional televisivo?  É de enlouquecer.

Glória Maria, a jornalista Glória Maria, derrubou, um por um, todos esses empecilhos, mostrando como ninguém mostrara, até então no País, que a força de caráter, em querer e conseguir ser  a melhor, é eficaz fórmula de denunciar o racismo.

Seria fácil, cômodo e bem comum se ela recorresse à autovitimização: sou preta, sou mulher e sou pobre, portanto ficarei no meu canto me lamuriando, falando jargões, fingindo que luto pela democracia social com palavras já ditas e reditas. Mas não. Glória foi à luta – e teve a saudável e democrática ousadia de se construir como a mulher preta da televisão, no recorte do telejornalismo. Tornou-se exemplo de coragem, de garra de personalidade, fez gente branca preconceituosa ficar calada, fez com que outras tantas mulheres pobres e pretas tivessem portas abertas nas mais diversas áreas profissionais.

Glória Maria foi a primeira mulher a acionar no Brasil a Lei Afonso Arinos contra o racismo. Haja consciência ampla, haja mente sábia. Haja carinho com sua gente.

Em meio à vida com tantas significâncias e tantos significados, Glória encontrou tempo para ser voluntária junto a crianças em situação social de vulnerabilidade. Adotou duas meninas. Há gente que não encontra tempo sequer para dar bom dia a uma criança nessa condição.

Esteve ela em mais de cem países, nas mais incríveis e maravilhosas jornadas.

Agora partiu, para ficar onde sempre esteve: entre nós. Para sempre.