“Não apenas minha carreira, mas também minha vida está ligada a Ayrton Senna”, afirma o ex-piloto francês Alain Prost a respeito de seu maior adversário nas pistas, que será recordado na quarta-feira, 25 anos após o acidente fatal que tirou a vida do campeão brasileiro.

P: Sua rivalidade com Ayrton Senna marcou a história da F1, talvez mais do que qualquer outra. Como você explica isso?

R: “São coisas que podem ser explicadas, mas não completamente. Não há um só dia em que não se fale disso. Nas redes sociais todos os dias há praticamente alguma coisa, é fenomenal. Deixamos uma marca, não nos demos conta completamente na época. Resumindo: passamos de um mundo de especialistas da F1 a um mundo totalmente aberto. Aí vimos chegar os grandes meios de comunicação, porque existia essa batalha humana entre dois pilotos de carisma, cultura e educação diferentes. Esta rivalidade foi incrível mas estava também ligada a toda a cena e, infelizmente, a morte de Ayrton a deixou congelada. Na realidade, eu só corri dois anos com ele na mesma equipe, e só quatro ou cinco anos no total (com os dois lutando pelo título). Fiz muitas coisas, ganhei muitas corridas e campeonatos sem ele, mas nossa história está completamente ligada. Não há um momento em que, se você fala de Prost, não mencione Senna e vice-versa. Não só minha carreira, mas também minha vida está ligada a ele. Vivo com isso há cerca de 30 anos”.

P: Como se vive com o peso de uma história como essa?

R: “Quando corríamos um contra o outro havia, ‘a grosso modo’, uns 50% das pessoas que te adoravam, e uns 50% que te odiavam. Era realmente incrível. Depois que deixei a F1 em 1993 já foi diferente. Felizmente houve seis meses quase de amizade a partir do momento em que larguei a F1 até o acidente. Isso mudou por completo a relação. E depois da morte de Ayrton, eu diria que os fãs de Senna – claro que não todos, porque sempre há os irredutíveis, mas a grande maioria – se uniram por uma história em comum, não ao Prost contra Senna, e isso é bonito. Por isso, eu também tive muita sorte de viver isso desta maneira. Há alguns casos de animosidade, de gente que viu o filme (o documentário ‘Senna’, do britânico Asif Kapadia, de 2010) que é uma bobagem, é uma pena, mas o resto é fabuloso. (…) Quando vou ao Brasil, acho que sou mais reconhecido do que na França, e há um entusiasmo incrível, porque tem uma coisa que se transformou em respeito já que faço parte da Fundação Senna e sempre estive muito próximo da família”.

P: Como o acidente fatal de Senna no Grande Prêmio de San Marino em Imola mudou a F1?

R: Há um antes e um depois. Em termos de segurança, já havia um pequeno passo adiante, mas – é duro dizer isso porque houve um acidente fatal de Roland Ratzenberger no sábado e outro acidente de Rubens Barrichello na sexta-feira – sem o acidente de Ayrton no domingo não teriam existido grandes mudanças. O acidente de Ayrton provocou uma reviravolta em matéria de segurança pelo bem dos pilotos”.